13x19 The rock

Imagem: tomaszd

Me deu uma folha sobre aceitar Jesus. Ri, com pena da timidez da senhora.
Depois, olhei à minha volta e não vi ninguém mais com uma daquelas folhas. Por que pra mim? É com isso que me pareço, com uma mulher sem fé?
Eu tenho!
Eu tenho...
Eu tenho?
Mas eu tenho o suficiente?
Me perguntam e eu fico zangada "Já não disse que tenho, que aceito?"
Disse baixo, de maneira que só eu pudesse ouvir a fé que digo possuir.
Disse tão baixo que foi como se negasse,  como se negasse não só três, mas zilhões de vezes.
Então me diga como posso ser a rocha que pretendo ser se, a cada questionamento, a cada discussão me escondo atrás de uma parede de incredulidade.
Digo que sim, que aceito.
Mas de que adianta, com a boca fechada e o cérebro adormecido?

13x18 Verão indiano

Imagem: mag3737

A chuva faz meu coração galopar desgovernadamente. Por uma janela no segundo andar busco um sinal de sua localização.
Pegadas na chuva, o som dos pés batendo na água, o cheiro de primavera, cabelos voando, uma blusa de frio preta, canções silenciosas, olhos bem abertos...
As gotas de chuva vão escorrendo pelas barras e, aos poucos, vão tomando sua forma e a minha. A lama delineia uma breve história do que seria, se fosse. Do que poderia ser, sendo: uma curta tragédia cômica da vida cotidiana.
Um professor chega, me puxa pra sala, me tira do transe causado pela chuva.
Eu acordo de mim mesma, dos meus devaneios. Mas você fica.
Você é mais real do que eu. Muito mais.

13x17 I do believe

Imagem: Pulpolux !!!
  
Disse que era normal. "Como pode ser?", pensei, "isso não tem nada de normal".
- É da adolescência. - mas eu já tinha 18.
- Passa com o tempo - "Não passa". 7, 18, 92, não passa.
- É humano - Não, é doença. Me dá umas pílulas cor de laranja.

Dois pontos na cabeça, meus amigos perguntam "como?". Digo que caí, conto a queda - onde, quando, por que, "foit tão bobo".
"Como?", pergunto pro reflexo no espelho.

- Você caiu, eu caí, caímos, ora.
Não caímos não, mas eu me lembro de ter caído.
(Era uma pedra rombuda, dessas avermelhadas. Ficou preta de sangue e minha orelha, úmida, os sons abafados. "Porra, Ulrika, corre" e minhas pernas cortando o ar, meus olhos cegos com o movimento)
"- Caiu como?
- Assim, caindo. Escorreguei na cozinha e bati a cabeça na quina da mesa, acredita?"


Eu acredito. Você não?