17x13 Delírios de consumo como os de Becky Bloom

Imagem: TingTing Huang

Eu compro. Finalmente, eu compro.
Com ou sem dinheiro, compro.
Sonho com as coisas que vou comprar e basta pensar nelas pra me encher de felicidade.
Coisas completamente fúteis; normalmente eu não daria a mínima pra elas (até um ano atrás), coisas lindas e tolas.
"Comprar me faz feliz", que coisa mais tola de se dizer.
Que coisa mais verdadeira.

17x12 13:31

Imagem: TingTing Huang

Bombas: Eu sinto que sou uma romântica entediada, velha, sem expectativas. Houveram pessoas, sempre. Nunca as que eu deveria amar.
Sempre preferi pessoas soturnas, cuja beleza se escondia em pequenas formas desarmônicas e intrigantes.
Navalhas: Acontece que esses detalhes me importam mais do que as pessoas que os possuem. Eu diria que os coleciono, como se fossem antiguidades.
Eu dizia "Você tem isso em você" e elas não entendiam que, pra mim, era só o que tinham.
Anéis: Às vezes, sinto como se tirasse das pessoas a beleza desses detalhes, como se murchassem ou fossem repentinamente despidas de todo o encanto. penso em devolver o que tirei, mas sempre me pergunto se o verdadeiro dono faria disso melhor uso do que eu.
Camisolas: Mas o que no é meu não me basta. Eu quero o que é deles, também.
Não me entenda mal, eles e seus intersses não me importam.
O que eu quero são as pessoas capazes de amar esses detalhes tanto quanto eu.
Quero que me amem, pois seus tão amados detalhes, suas paixões, pertencem a mim.

17x11 Thanks for the memories

Imagem: TingTing Huang

- Agosto, mês de desgosto - alguém diz, ao meu lado. E continua - Todo ano, a mesma coisa, ela não aguenta.
Mas suas palavras se perdem numa direção oposta à minha.
Ando, da forma mais solene possível, até o anjo cinzento que marca os túmulos familiares.
O sol brilha, quima, diferente do sol de 3 anos atrás, mirrado e triste. Até parece que superou.
Paro em frente aos três túmulos que me interessam; cruzes, nomes, datas e flores - certamente trazidas por Larissa - se confundem, criando uma atmosfera caótica.
Trouxe tulipas pra uma velha ranzinza que, certa vez, me disse que eu tinha bons dentes.
Uma mixórdia de flores secas roubadas de árvores e canteiros - algumas margaridas e uma ou outra flor mais fedorenta -, eu as trouxe pra um amigo que me disse que a vida era muito mais do que queria que acreditássemos. Um amigo que queria conhecer tudo e a quem tudo foi negado.
Sem mais nada nas mãos pra dar, me senti um pouco perdida. Pensei em pegar uma das tulipas, mas não pude.
Me abaixei e arranquei uns tufos de grama, com terra e tudo, e joguei sobre o terceiro túmulo, sujando tudo.
Minhas unhas ficaram escuras, cheias de terra. Me senti estranhamente bem com aquilo, com a minha oferta para o homem que nunca conheci; o homem sobre o qual ouvi tantas histórias que não passavam de mentiras.
Fui embora feliz, leve.
Pronta pra tudo o que estava por vir.

17x11 Lion's song

Imagem: TingTing Huang

Ele abriu a boca a 2 cm da minha e dela saiu um rugido.
- O que você disse?
Ele abriu os olhos, confuso e constrangido - Eu disse que...
E o rugido, de novo, uma canção, um chamamento: uma música infinitamente mais selvagem e assustadora do que a sua.
Eu te agarro as omoplatas e te ouço dizer, distante:
- O que foi, B.?
E o rugido aumentando, cada vez mais ensurdecedor.
"Não me deixe ir, não me deixe ir"
Mas eu já não sou mais dona de mim: minhas carnes parecem se desprender do corpo, seu cheiro se torna repulsivo e até sua música se torna insuportável.

Me desculpe, me desculpe.
Ninguém vai te amar como eu. Até o leão chamar.

17x10 White lies

Imagem: TingTing Huang

Parei de mentir e as mentiras vieram correndo atrás de mim.
Tranquei a casa, mas, mesmo à noite, suas unhas arranhavam a madeira da porta. Elas nunca dormem.
Durante a aula, olhei pela janela e vi uma delas lá embaixo, esperando que eu saísse.
Era uma mentira bonita, no início, que eu mantinha limpa e alimentada pelas minhas emoções e palavras forjadas. Agora é uma mulher fosca, de roupas puídas e dedos em carne viva.
Essa é, particularmente, a que mais me persegue.
Me atormenta em sonhos, viagens, me tira o apetite, o prazer dos filmes, a poesia. E me puxa os braços, os cabelos, me implora em silêncio que tudo volte a ser como antes. E eu fujo, sem dizer nada.
"Como seria se eu só dissesse não, se eu dissesse à ela que acabou?"

Mas falta coragem.
Sempre há de faltar.

17x09 Are you there, Moriarty?

Imagem: TingTing Huang

Vendei meus olhos para a nossa batalha pessoal, eu não iria mais fraquejar.
- Você está aí, Moriarty?
Bati com força, a mão nua. Acertei alguns fios de cabelo.
- Você está aí, Moriarty?
Nem cabelos; dessa vez, apenas ar.
- É sua vez, disse eu, temendo o golpe.
Mas não veio, nunca veio.
Eu esperei durante um bom tempo, até perder a paciência.
Tirei a venda.
- Você está aí, Moriarty?, gritei.

E ninguém respondeu.