5X08 Color B.

Imagem: LU5H. bunny

Folhas em branco, folhas brancas, pintando minha mente de branco puro e pérola.
Pura, eu? Não, com certeza.
Deixe-me por Cinza 30% nos pensamentos pessimistas, verde-lima nesses sapatos de sonhos.
Falta amarelo no meu medo de cabelos dourados, guache vermelho sujando as mãos e as unhas dos pés.
E toca a por azul claro nas bordas dos pensamentos.
Verde-folha nos meus cabelos.
Misture esse rosa e esse branco nos lábios sim, Pigmalião?
Marrom na pele, nos olhos. Marrom, sim! E cílios pretos.
Veias verde-azuis.
Laranja nos dedos, me dê cá esse roxo, vou desenhar violetas.
E esse branco? Jogue fora, sim?
Pinte-me como quiser. Só prometa não me deixar em branco.

5x07 Sobre como as pessoas estão presas em si mesmas

- Mãe?
- Mãe...
- Mãe.
- Mãe,
- Mãe
- Mãe!

- Sim?

"euqueroprecisotenhofizerreinãobhasdhidasxnashdasdasiuudas

- Nada.

Imagem: Naíra Dias

5x06 Malhação 20zz

 Foto: arincrumley

 Ah, inverno. Frio do caralho, pessoas tremendo, pessoas se apaixonanando.
Acontece o tempo todo.

O garoto,_________, está de ressaca nesse exato momento. Não faz idéia do que aconteceu essa noite e precisa estar no trabalho em 6 minutos. Mas não sabe onde está. Dia típico.
A garota,_________, levou horas se vestindo pra aula. O ônibus atrasou e ela esqueceu a carteira em casa. Seu celular descarregou. E seus tênis estão descolando. Péssimo dia.

Ele pega o mesmo ônibus que ela.
Ela está ouvindo Lily Allen. Dane-se o mundo.

O trabalho é um saco.
Aulas são um saco.

Ele come loucamente.
Ela esqueceu a porra da carteira.

O trabalho ainda é um saco.
A vida é um saco.

Ele gosta de observá-la lendo no ônibus. Mas acha que ela não lê de verdade.
Ela sabe que ele está olhando. E nunca entende nada do que lê no ônibus.

Ele desce antes dela, sempre lhe diz adeus, mentalmente.
Ela sabe tudo sobre ele. Tudo o que se pode saber sem conhecê-lo. Google. Uma benção e uma maldição.

Ele tem mil coisas pra fazer.
Ela está consultando o horóscopo "Não deixe que a timidez atrapalhe seus planos.

Ele tem bons pressentimentos sobre essa noite.
E ela se veste, uma mistura de Rammy, Kim e Nat. Poderia vomitar mas precisa parecer calma. Confere o rosto no espelho e vai ao encontro dele.

Ah, inverno... Me deseje sorte.

Early Cuts: Funeral for a Non-Friend

As pessoas me encaravam, questionavam minha chegada.
"Vim aqui pra ver o garoto morto", gritei com os olhos.
"Mas não viemos todos?", responderam.
E o espetáculo post-mortem continua. Lágrimas, amenidades e a fila para o show.
"Venham ver! Venham ver! Espantoso! Atrás dessa porta, o inimaginável!".
E a sala escura, a multidão tapando minha visão de flores brancas e pernas, mãos e

E do estranho deitado no caixão.
Eu não o conhecia. Eu era uma intrusa. Não sentia a dor, a revolta. Era só um garoto morto pra minha realidade anestesiada.
Abandonei-o, abandonei o silêncio fúnebre e os gritos e fui pra casa andando, que fazia uma belo dia de sol.

5x05 Lamentações da seta, lamentações do alvo


Imagem: Angela Jarpa

Muito ou nada.
Doses maciças de medicamentos me levam de um extremo a outro antes que eu perceba que devo me controlar. Não me sinto como eu deveria me sentir.
Mas hoje. Eu não sei. Talvez tenham sido os gritos dela "eu quero meu filho". Talvez o corpo trêmulo da minha irmã, diante da descoberta da morte. Talvez minha frieza diante disso tudo. Talvez.
Num minuto, eu era eu e, como sempre acontece, eu não era mais eu no outro. Eu era realmente eu.

Ele tinha olhos bonitos. Olhos de criança.
"Volte", eu o espantava, "Volte" e ele ria.
A bala atravessou a cabeça dele, zunindo. Sangue e cérebro no meu colo.
Sangue, cérebro e aqueles olhos de criança.
Eu poderia ter amado alguém assim.
Mas segurei seu sangue, seu cérebro, segurei enquanto ele gemia.
Vazando feito pus, suas lembranças grudavam nas minhas mãos. Mas eu o segurei. Pelos lamentos de sua mãe, que eu amava.
"Faça um pedido"
No ápice da dor, da alucinação, ele me chamou de mãe.
"Estou aqui"
- Mamãe, faça parar.

Eu poderia ter segurado.
Poderia.
Poderia.
Mas eu era mãe. E lhe disse que o faria.

Não prometi à mãe dele que tudo ficaria bem.
Não fiz promessas vãs a ninguém.
Então lhe deixei.
Olhos bonitos e sangue seco eu o amei.
Os gritos dela ecoam e me cortam os pulsos, me rasgam o cérebro e me acusam. Me rasgam o sangue, as lembranças.

Mas ele não sente dor.
Nem eu.

5x04 Dirty boots



Close your eyes, close your door
Tirei os sapatos e entrei. O barulho ainda era o mesmo de séculos atrás e eu desconfio que, quando eu morrer, quando todo mundo que eu conheço morrer, o barulho vai ser o mesmo.
A mesma escuridão, as três silhuetas de sempre. E, minha parte favorita, aqueles mesmos fios de cabelo brilhantes, caindo sobre um tecido com cheiro de novo que eu vivo tentando espiar.
You don't have to worry any more
- Décima?
Morta acende uma vela e seus olhos faíscam. Eu estou aqui e ela sabe porque.
I'll be your baby tonight
Cantarola, infantilmente
"Havia um homem na estrada,
havia um homem na estrada,
esperando sua namorada,
mas ela nunca chegava"

- Décima, eu preciso saber o que estou fazendo, deixe-me...

- Você acredita em nós agora.
Shut the light, shut the shade
You don't have to be afraid
I'll be your baby tonight.

- E há toda uma harmonia que não havia antes. Fios soltos se encaixando, tomando formas.
Aquele tempo da sua vida acabou, por isso você está aqui.
Mas havia amor, naquele tempo. E você o deixou.

But we're gonna let it
You won't regret it.


- E agora você é infértil. Seus pensamentos são ar mas não fariam um balão levantar vôo. Você não é mais você.
Mas é inteligente, vai descobrir coisas novas.
É forte também. Muito forte. Mas muito cheia.
Procure por outras pessoas.

Kick your shoes off, do not fear

- Só tem que esperar.

E ela sorri, misteriosamente.

- Mas é só o que tenho feito, Décima.
- Então continue fazendo, Rach.

Calço meus sapatos e continuo infértil mas, de alguma forma, sei que vou conseguir voltar ao que era. Tenho que esperar.

Bring that bottle over here
I'll be your baby tonight.

5x03 Belief



O cheiro de jasmin eu já conhecia. Me lembrava dos incensos queimando quase que eternamente nos quartos da minha pré adolescência. E a voz grave de cigana, aquela decoração nostálgica, tudo me era conhecido. Inclusive meus ares de Macabéa, quando entrei naquela tenda, trêmula, procurando esperanças pra segurar minhas ilusões com mais do que as pontas dos meus dedos.
Ela faz suspense, explica.

-Essa aqui é você, o jeito como você se ama. - vira a carta - O cavaleiro de espadas invertido, minha filha, isso é ruim. Mudança ruim, de repente, meu bem. Cuidado, cuidado...
Aceno, em desespero.
- Essa é você e os outros. Hm, os cinco pentagramas. Isso quer dizer que você é má. - tosse - quero dizer, má não. Você não se relaciona bem. Mas isso vai melhorar.
- Essa é o que está te atrapalhando, minha filha. O papa - risinhos - As coisas em que você acredita, seus ahm, seus princípios. Isso está no seu caminho, filha.
- Essa são suas chances. Nove de espadas. É a carta do sofrimento, anjinho. Suas chances vão ser boas se você seguir em frente com fé,viu?
- Essa é o que você deve fazer. Dez de copas invertido. Isso não é bom não. Significam brigas, meu bem. De amigos ou família.

-Prontinho. Não se esqueça de que as cartas só dizem o que você já sabe aí dentro, ok?

Nada que eu não soubesse, realmente.