17x19 A rush of blood through the head

Imagem: TingTing Huang

Chuva e fogo consumindo aos poucos as árvores, as casas, as pessoas.
"É tudo meu", ele pensa, e joga mais teria sobre os cadáveres, os vivos caindo nos túmulos enquanto enterram seus mortos em covas rasas.
Caminha pelas ruas cheias de fuligem e pó dos arranha-céus caídos, desviando-se dos corpos de bebês sem rosto.
Nas poucas casas intactas, Ele põe fogo e observa-as queimar lentamente enquanto enquanto espera sentir algo - alegria, dor, ira...- salvar a si mesmas, com uma magnum antiga, sem prazer.
"É tudo meu", ele pensa, e sente a pulsação acelerar, as coisas adquirem significado.
Checa o garoto de olhos arregalados que anda atrás dele.
"Vai ficar tudo bem, filho.", o brilho das chamas refletido nos olhos pequenos e castanhos.
Algumas pessoas choram, outras riem enquanto ele atira em uma de cada vez, se perguntando "por que".
Eles correm , assustados, felizes, vivos.
Ele atira em todos , pega o filho no colo e caminham pelo lugar, enquanto esperam que o fogo consuma tudo.
O menino olha as próprias mãos feridas e chora.
"Não adianta pensar nisso. O que importa é que a guerra acabou. Vai brincar"
Enquanto o pai observa, o menino corre no meio dos cadáveres e da fumaça, chutando pedras, corpos e balas.
Um novo dia que chega, pensa o pai. E descansa, antes de voltar ao trabalho.

17x18 Se eu morresse amanhã (21-12-2012)

Imagem: TingTing Huang

Se eu morresse amanhã, não teria me despedido de quem amo - e ele jamais saberia.
Se eu morresse amanhã, meus olhos se encheriam de luz e dos flashes de Coppola, risadas e memórias que roubei.
Se eu morresse amanhã, chegaria ao purgatório sm saber se Dante encontra Beatriz, quem é Lasher, por que a gente acabou, se passei no vestibular.
Se morresse amanhã, nunca teria filhos, nunca me casaria, nunca namoraria, nunca publicaria, nunca dançaria o foxtrot, nunca abriria um cadáver, nunca ouviria outro CD da Florence + the machine, nunca veria meus irmãos quando adultos, nunca leria "Perto do coração selvagem" ou a trilogia de sangue.
Se eu morresse amanhã, nunca conheceria a Coréia e a Irlanda.
Se eu morresse amanhã, não assistiria à copa do mundo ou à 2ª temporada de Homeland.

Mas, se eu morresse amanhã, não teria mais que estudar e fracassar, correr, sofrer, ter medo, escutar, falar, mudar, enfrentar os fins de semana ruins, pensar, sangrar, lutar.
Se eu morresse amanhã, a guerra teria fim.

17x17 Breaking

Imagem: TingTing Huang


Breaking rules: - Alguém já te disse que a sua boca não tem gosto?
- Como assim?
- Ué, não tem gosto. Sempre foi assim.
- É assim que tem que ser.

Breaking bad: Ajoelhada, balbuciou coisas incompreensíveis, me ofereceu dinheiro, e eu, semi-surda, puxei-lhe os cabelos finos e empurrei sua cabeça de encontro ao meu joelho, com força. Uma, duas, três vezes.
Mordia a língua e não sentia dor, só o joelho indo e vindo, esmagando a cartilagem, úmido de sangue.



Breaking dawn: Os olhos arregalados pra escuridão. Medo de quê? Medo de quem? O sono chega, estígio ou não, luto contra ele: ninguém vence. Cochilo de olhos abertos, vejo coisas (vejo gente, insetos minúsculos bebendo meu sangue e comendo minha carne), acordo suada, fecho os olhos, sacudo os lençóis. Cochilo.
A porta range, os encanamentos assobiam e os trovões rugem, tudo fala. Acordo, acendo as luzes, tomo remédios.
Fecho os olhos e resolvo equações, faço distribuições eletrônicas, escrevo cartas mentais, até amanhecer.

Breaking down:  (Um frasco do ar que você respira, uma mecha dos seus cabelos que não faça falta) Eu sei que você pode me ver, que você pode olhar pra mim, se quiser. Que, se eu te tocar, você não vai desaparecer, que você tem cheiro, gosto e sua voz é mais do que um tom.
Eu sei, mas não faz a menor diferença.