47x21 Escrevo, pra você, uma carta que não vou entregar

 

Imagem: TingTing Huang

Eu só quero saber de escrever, sabe? E isso me preocupa porque sempre associei a escrita a um refúgio, alento, escape. 

Ultimamente, acho que, se pudesse, andaria armada com lápis e caneta e escreveria no ar, nas paredes, nas pessoas nas ruas. 

Eu quero chegar a algum lugar com isso, mas é tudo tão rápido, feito uma canção curta. 

Tô pensando em 2016, eu acho. Ou 2018. 
2018, eu acho. Foi um ano de merda. 

E eu acho que eu que precisava de você. 
Eu não escrevi em lugar nenhum sobre o que você fez. 
Mas eu precisava de você, e você estava lá. 

Eu não sei se você se lembra daqueles dias imundos, sua memória é uma merda. 
Nem eu me lembro bem, graças a Deus. 

Eu só me lembro de falar com você. E de segurar o choro. 
E de escrever muito, nos braços e nas pernas e nos guardanapos. 

Eu me lembro de mais glitter, e das letras das músicas serem menos tristes. 

Acho que eu já te amava, então. 

Mas não me lembro de ser assim. Talvez essa seja uma sensação tipo baseline, com agudizações, entende? 

Talvez seja só entender os fatores de risco e de proteção, aí já era. 

O que eu quero dizer é: você me faz feliz. E triste. E só. 
eu não sei o que é isso. 
Mas eu sinto como se estivesse sentindo tudo de uma vez, sem filtro. 

Dor, e prazer e tesão e tristeza e felicidade e ódio e amor e tudo o que há de ruim (e de bom). 
Parece que vivo o hoje, o ontem, amanhã e daqui a pouco, prendendo a respiração, como se, a qualquer instante, você fosse invadir a sala, quebrando a porta, paredes e telhados. 

Logo você, certo? Que não faz um ruído sequer. 

E, ainda assim, você me deixa quase surda com o barulho que provoca nos meus pensamentos. 
Eu acho, 
mas realmente não sei,
que estou apaixonada. 

Ou doente, mas não sei. 

Eu só sei que tudo bem, por enquanto. 

E eu sinto muito, eu não consigo controlar. Eu queria poder. 

Eu já tentei, mas não consigo. E já nem quero. 

Sabe, pode ser que eu nunca mais me sinta assim. 
Então, obrigada. 

Obrigada por antes, por tudo, e por isso. 

Dói pra porra, mas é mágico. 

Acho que passa, em breve, volta para a baseline, fica aí latente, até eu baixar a guarda. 
Ou não. 

Então, eu realmente sinto muito, mas vou aproveitar, ok? 
Só dessa vez, prometo!

(Se é que eu posso prometer...)

Com amor, 


B.