2x08 The Jacket (starring me)


A visão do cadafalso é perturbadora. Quantas pessoas pisaram ali, esperando por um perdão que nunca veio? Rezando/Torcendo pra que um mensageiro rápido lhes traga o maldito pedaço de papel que lhes salvará a vida?
Um homem lê os meus direitos. Então, noto a multidão. E todos os rostos, de repente percebo, são iguais. Não há neles um sinal de compaixão, sequer um.
Meus olhos ardem devido ao esforço pra não chorar. E eu torço pra que isso seja mais um pesadelo da série "eu morro no final". Eles têm se repetido. ("Que tipo de homem você é?")
Sempre, sempre morro. Já morri de tantas formas que isso não faz mais diferença.
Às vezes até me decepciono ao acordar e perceber que tudo não passou de um sonho.

A multidão silencia, assim como o homem que lia meus direitos.
E eu digo a mim mesma pra não levantar a cabeça. ("Vou descobrir sozinha")
Percebo que estou chorando mas não posso olhar, simplesmente não posso...
Mas eu tenho que olhar, de novo e de novo, digo a mim mesma que talvez seja real, talvez eu esteja mesmo morrendo. E isso justifica vê-lo mais uma vez.
A multidão o olha, inexpressiva. Eu tento gritar mas qualquer palavra me parece repentinamente vazia de significado.
É como se ele absorvesse o significado de tudo o que resta.
E eu percebo que meu rosto é como todos os outros ("isso pode me matar").
Olhar pra mim ou pra qualquer outro... Não faz diferença pra ele.
E, pior que compaixão ou dor, ele me olha com descaso. Isso me faz dar um passo a frente e torcer pra que meu pescoço se parta rápido.

Acordo na escuridão. Ofegante.
Oh, Deus, acho que estou apaixonada.

[Ou talvez seja apenas Lua Nova.]

2x06 A idéia de Rudy nu.

Existe um sorriso que é o mais lindo do mundo. Um sorriso de olhos brilhantes e cabelos de outono.
Existe um garoto que é o mais imprevisível do mundo. Uma imprevisibilidade atordoante como uma viagem de 12 horas.
Existe uma garota que é a mais tola do mundo. Uma tolice pura e até um pouco atraente.
Existe uma incerteza que é a maior do mundo. Uma incerteza que sufoca e angustia.
E existe uma espécie de nudez que nos torna ainda mais vulneráveis que a nudez costumeira. Porque é uma nudez pública, vulgar, intensa, até sexual na qual somos quem somos, cada partícula de nós mostra nosso verdadeiro eu.
Nos organizamos em filas e somos julgados, avaliados, selecionados. Nos transformamos em números, códigos e fotografias horríveis.
Um cronômetro inicia a contagem regressiva e bum! estamos prontos para o mundo real.

Meet my world.

2x05 Coffee, cookies and low self esteem for snack


Por que nunca estamos satisfeitos? Com o que alcançamos, quero dizer.
Sabe qual era o meu ideal de mundo perfeito? Um mundo sem contos de fadas, um mundo real. Onde somos o que vêem, o que conhecem de nós. Onde não existe pieguice, onde a realidade machuca e podemos perder um dia inteiro por esperarmos algo. Ou alguém.
Eu consegui isso. Um mundo imprevisível, triste, onde os contos de fadas dizem que Deus não foi quem pensamos, as crianças se tornam Deus cedo demais e não há uma garota sequer que esteja esperando pelo temível pirata Roberts.
Mas eu não quero mais isso.
Quero que as crianças aprendam tarde que são deuses, quero que as garotas queimem por dentro e se contorçam por uma pequena amostra de contato físico. Quero que pensem que existe dragões. Que tenham medo do mar. Que chorem durante horas ao assistir Pocahontas.
Eu não me achava uma garota de verdade. Bom, agora é que eu não sou uma. Não passo de um manequim ambulante que pisca e sorri quando é o momento certo.
Por que a garota do papel higiênico, embora não fosse tão bonita, embora não chamasse tanta atenção quanto essa, era real.
Era palpável. Tinha (embora ainda tenha) pavor de contato físico. Ela era vulgar, sim. Mas era uma criança ainda. E aprendeu a vida inteira que nao seria uma vadia mesmo que falasse como uma, aprendeu que se quisesse amigos, deveria falar como eles. Sim, foram péssimos professores, mas valeu a pena ser vulgar.
E é o que eu ainda sou, não vou tentar ser mais do que eu consiga, eu já sei que posso ser quem quiser.

2x04 Look after B.

Tenho andado pela cidade o dia inteiro
Procurando por uma garota chamada E.
Eu posso vê-la andando na rua
Com medo de se atrasar para o que quer que seja
E. sempre olha pra frente.

Ela sente medo das distrações
Tem tanto medo de viver
Que às vezes perde tempo


Tenho dito tantas coisas, feito tantas coisas. Minha vida se tornou uma interminável sicessão de fatos novos e asustadores. Que todos parecem ter previsto.
Tenho medo da onipotência, da onipresença das pessoas.
O que as faz pensar que sabem mais do que eu como devo cuidar da minha própria vida?
O que as faz pensar que são melhores do que eu?
Tenho tido tempo insuficiente pra pensar em tudo o que gostaria, tenho sido insuficiente, imprestável, insatisfatória.

Tenho esperado por horas e horas que o príncipe encantado (temível pirata roberts, como queira) apareça em Serendipity, contrariando o destino, mesmo que ele se atrase e se esqueça das rosas brancas.
Mesmo que eu esqueça de todas as poesias que já li apenas de olhar nos olhos dele, mesmo que ele vista a camiseta branca ao invés da azul.
Mesmo que não toquem kelly clarkson (euri), mesmo que serendipity feche.
Estarei esperando pq estou simplesmente cansada de desistir, de virar as costas no último momento.
E estou cansada de estar incerta, por favor grite comigo.
Penso em tudo isso parada no portão da casa dele, tocando o interfone pela quarta vez, sabendo que ele está lá.
Penso e repenso em coisas nas quais nunca gostaria de ter pensado. E concluo que tanta proteção foi inútil da minha parte.
Mesmo o guarda chuva. Toda a proteção é inútil da minha parte.
Talvez eu deva apenas aprender a lidar com isso. Mesmo que queira dizer estar sempre direcionada ao fracasso.
Não importa. Proteções inúteis a parte, as coisas são boas enquanto duram.

2x03 Your glasses

E eu me sentei repetidas vezes naquele lugar, naquele maldito lugar, e olhei pr'aquela mesma nuca, sonhando repetidas vezes com malditas pieguices, poemas suspirados e beijos arrebatadores.
E eu sempre estive sentada ali. Olhando pra nuca errada, pensando na coletânea errada, errando, sempre errando. Nunca, jamais levando em conta que a minha nuca também poderia estar sendo observada.
Porque eu nunca me vi pelos olhos de alguém. Provavelmente tem alguma relação com o fato d eeu jamais olhar as pessoas nos olhos, provavelmente eu nunca poderia ter me visto nos olhos de alguém pq eu nunca deixo que ninguém me veja.
E eu pergunto a você, O que você possivelmente poderia ver em mim?
Pessoas passam dias questionando suas roupas, as regras e as tradições.

Pense com calma, o que acha que veria em mim? O que vê em você?

E tudo isso é pensado enquanto aquela maldita luzinha laranja pisca desesperadamente diante dos meus olhos.
Me sento no vão entre a parede e a cama e fumo, relembrando poesias, mesmo que não entenda nada, nunca. Só pra me distrair, pra não morrer de medo de intimidade, torcendo pra dormir e acordar corajosa, pra estar disposta a fazer o que deve ser feito.
Mas se não sou capaz de amar a mim mesma, o que me dá a capacidade de amar alguém?