17x15 Formato mínimo (ou "O corvo e a escrivaninha")

Imagem: TingTing Huang

O corvo: - Eu te amo. Eu te amo. Eu te amo; a boca vermelha, o gosto dela na boca, o cheiro dela, os cabelos dela, o corpo dela: ela inteira, real como nunca havia sido antes.
Havia uma chance, talvez mais de uma, oculta como suas pernas, seus seios - com os quais ele havia sonhado mais de uma vez e... "Vá devagar", pensou, mas não controlava mais seu corpo. Seu corpo era dela, finalmente. Era ela, também, uma extensão.
- Eu te amo, eu te amo, eu te amo, dizia em seus cabelos. E os cabelos nada diziam. Mas ainda havia esperança.

A escrivaninha: "Mas que fome é essa?", pensava, "essa fome é de mim?" e ele a engolia aos poucos.
Ela teve medo de se deixar devorar, teve medo de machucá-lo, se conteve.
Eu te amo, ele disse. Eu te amo, ela quis dizer. Porque ela a amava ali, ela o amava assim, um amor instantâneo e finito.
Ele queria entrar no corpo dela pela boca  ela o mantinha levemente afastado, pra não magoar, pra não ter que dizer que já estava tão cheia de si que só cabia mais uma pessoa - que já tinha reservado lugar.
Não há vagas, ela piscou.
Mas ele, cego, não leu.
E ela, muda, nunca disse.

Qual é a semelhança, Jack, entre o corvo e a escrivaninha?

(Ele procurava uma princesa, ela procurava o próximo)

0 comentários: