17x11 Thanks for the memories

Imagem: TingTing Huang

- Agosto, mês de desgosto - alguém diz, ao meu lado. E continua - Todo ano, a mesma coisa, ela não aguenta.
Mas suas palavras se perdem numa direção oposta à minha.
Ando, da forma mais solene possível, até o anjo cinzento que marca os túmulos familiares.
O sol brilha, quima, diferente do sol de 3 anos atrás, mirrado e triste. Até parece que superou.
Paro em frente aos três túmulos que me interessam; cruzes, nomes, datas e flores - certamente trazidas por Larissa - se confundem, criando uma atmosfera caótica.
Trouxe tulipas pra uma velha ranzinza que, certa vez, me disse que eu tinha bons dentes.
Uma mixórdia de flores secas roubadas de árvores e canteiros - algumas margaridas e uma ou outra flor mais fedorenta -, eu as trouxe pra um amigo que me disse que a vida era muito mais do que queria que acreditássemos. Um amigo que queria conhecer tudo e a quem tudo foi negado.
Sem mais nada nas mãos pra dar, me senti um pouco perdida. Pensei em pegar uma das tulipas, mas não pude.
Me abaixei e arranquei uns tufos de grama, com terra e tudo, e joguei sobre o terceiro túmulo, sujando tudo.
Minhas unhas ficaram escuras, cheias de terra. Me senti estranhamente bem com aquilo, com a minha oferta para o homem que nunca conheci; o homem sobre o qual ouvi tantas histórias que não passavam de mentiras.
Fui embora feliz, leve.
Pronta pra tudo o que estava por vir.

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