27x11 Ghost Protocol

Imagem: TingTing Huang

Entramos no carro, repassamos o cronograma e ele me beijou, como sabíamos que faria.
Me puxou pra mais perto, como sabíamos que faria.
E, de repente, ele não era mais o mesmo, aquele momento poético e tétrico em que uma pessoa se torna puro instinto.
Ele esqueceu a hora, a vontade de ser compreensivo e calmo, o juízo.
Levou o meu junto, vazando pelos poros, saindo pela respiração curta, ruidosa.
Ele me segurou como quem diz "Não me importo com mais nada agora", como se só aquilo existisse, sem amanhã, sem juízo, sem ninguém.
Trocamos calor, átomos, pele lisa, febril, o ar tão quente que era quase impossível tolerar.
Toquei seu rosto e ele suava, derretia, febril, delirante, sem luz, sem penumbra, mas, ainda assim, poético, cru, humano, vivo.
Tão cru e tão bonito. Pele pura, lisa, úmida, quente.
Achei linda e perturbadora toda aquela vontade, e eu ali, sem saber exatamente o que fazer, o que querer, até onde ir.
Fiquei com medo, "eu nem te conheço", e o que é que você sabe de mim? Esse corpo é meu, isso é meu?, dei dois passos pra trás e nos perdemos um pouco, ele longe demais dos limites entre certo e errado, tentando me dizer com dentes, peles e movimento, "there's no need to complicate".
Mas já era tarde, já estava tudo complicado.
Já está tudo complicado,
E eu não sei como descomplicar.

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