22x20 Ignorância Molecular (Season Finale)

Imagem: TingTing Huang

"É nossa tarefa ignorar um ao outro", parafraseio algo que você disse ao James, sobre nós.

Eu sinto muito, Holden. Muitíssimo.
Acho que acabei por pensar que você era como todos os outros, que nunca seríamos mais que alguns diálogos estúpidos, que algumas perguntas e uma ou outra demonstração de preocupação - sempre da sua parte, que ironia -, nunca seríamos amigos.
Achei que nunca fosse ser mais do que isso, porque eu nunca fui mais real do que isso antes.
Pensei, naquela noite, várias vezes, centenas de vezes - sem exagero -, em te confrontar, em dizer "Eu não te ignoro". Mas é a verdade, eu te ignoro.
Ignoro suas escassas tentativas de falar comigo, desvio os olhos, finjo que não te vi, só falo com você se mais gente estiver em volta, não entro nunca em assunto nenhum que não seja estritamente importante pra alguma outra pessoa. Nem sequer me sento perto de você, mal te cumprimento.
E eu sinto muito se isso te irrita, se isso te faz pensar o que quer que te faça pensar - eu costumava achar que você não se importava, mas não é o caso, certo? -, mas não dá, não dá. 
Eu não posso agir com você como ajo com todo mundo.
Porque tenho medo que você me julgue. Eu sou tão estúpida, tão chata e desinteressante. Não quero que você me ache chata.
Porque não sei como lidar com você. Porque tenho medo de que essa sensação que tenho quando você não me responde ou quando me responde, essa euforia intercalada com frustração, seja igualzinha no dia a dia.
Porque você é tão exatamente o tipo de pessoa que eu descreveria se tivesse que dizer qual é o meu tipo, que eu não conseguiria não devanear sobre você.
Porque eu acho que é de você que elas falavam.

Porque eu acho que gosto de você. Apesar de todas as complicações implícitas. A favor de cada uma das probabilidades, seguindo o curso que teimo em negar - meu prazer em me meter nas situações mais impossíveis, meu tipo ideal, minhas mudanças internas -, contra todos os meus princípios. Contra a minha vontade - que é gostar de Otto até secar, até morrer. 
(Talvez sejam os hormônios, espero que sejam. )

É por isso que ando te ignorando. 
Até que eu entenda melhor, até que algo mude, nada vai mudar.
E sinto muito. Sinto muitíssimo.

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