35x11 What is wrong with Norman

Imagem: TingTing Huang

- O quê?

Eu pergunto, e a voz na minha cabeça responde:
"Relaxe. Respire. Respire."

Eu quero gritar.
Quero destruir a casa, quebrar os pratos, cortar meus braços com os cacos, céus, eu preciso de cigarros.

Parte da síndrome de abstinência, você dirá.
Eu sinto uma dor de cabeça, constante, irritante.
E a raiva,
a raiva não passa.
Ela só está aqui, feito um cão rosnando na parte de trás da minha cabeça.

Sinto vontade de queimar coisas,
destruir,
morder,
xingar,
dizer verdades,
distribuir tapas.
Mais do que vontade, uma urgência

- Por que você não se corta, feito uma pessoa normal?, pergunta L, quando eu mando mensagem às 3 da manhã, elétrica, com vontade de sair por aí dirigindo pela cidade.
E a resposta é tão óbvia que chega a ser engraçada, então damos risada, mesmo sem querer.

Eu não posso ficar em casa,
tô me sentindo presa, enjaulada,
pantera de Rilke.
Mas aí saio de casa, dirijo por aí e fico parada no semáforo, na chuva, sem ter pra onde ir.
Minha prisão sou eu.

Sinto raiva,
de uma forma que não é nova,
mas que fica cada vez mais difícil de controlar.

Quero explodir,
quero sangue,
então como,
leio,
medito,
sussurro palavras sem sentido no meio da noite, pra me distrair,
recorto revistas
e colo figuras na parede do quarto.

Eu estou zangada,
de uma maneira que você compreenderia
e não é que seja difícil de compreender mas
NÃO SOMOS A MESMA PESSOA.
Não sentimos da mesma maneira, portanto você nunca entenderia da mesma maneira que eu.

Estou zangada a vida inteira,
guardando,
esperando.
Zangada com uma garota da primeira série que arrancou meus cílios,
com um soco que levei por ter me distraído,
uma resposta que não dei,
com o primeiro cara que não se sentiu obrigado a gostar de mim,
com o barulho da louça sendo lavada,
papel higiênico,
com desenhos sobre pinguins
e com o fato de que não estou medicada.

Eu estou furiosa com a condescendência que as pessoas acreditam ser empatia ou educação,
com o ócio,
com o meu futuro
com a minha própria estupidez
e com esses malditos neurotransmissores

Eu sinto isso crescendo, crescendo
Aquela sensação
eu a sinto comprimir meus pulmões
Ela fala comigo e eu não quero ouvir
Nunca mais
Eu não quero ouvir
Eu não quero ouvir
É a minha voz, é a sua voz, é a sua voz
e eu não quero mais ouvir, Gideon.
Nunca mais.

Medito,
Leio,
Assisto desenhos animados e comédias
Mas você não vai embora.

- Isso sou eu?

E ela cresce e se contorce,
eu a sinto chegar, como um ataque de pânico
e isso me deixa mais agitada
eu preciso me acalmar
eu preciso me acalmar
"Relaxe. Pense em uma poesia, pense em uma música'
Mas a dor aumenta, e parece que vai me partir ao meio, eu não consigo respirar

Ela faz sua mágica
"Pense em algo, pense em uma história. Pense sobre Ivan e o Gigante"
Eu penso.
Olhos cor de violeta, bolas de ouro derretido, tenazes, pedras preciosas.
"Funcionou :)"
Hoje.
Funcionou hoje.

Mas e amanhã?
E semana que vem?
Sábado à noite?

"Você sabe o que tem que fazer, B."
Sim, eu sei.

Leio.
Medito.
Como.
Assisto filmes.

Eu sei o que tenho que fazer.
E não vou fazer.

Nunca mais.

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