Imagem: TingTing Huang
Não durmo.
Abri a caixa, meu amor, deixando tudo escapar, exceto -
Bom, você sabe.
Disso não consigo me livrar, por mais que tente.
E eu tento.
Lembro do dia em que nos vimos pela primeira vez.
Eu sabia, então, e você também, que eu iria te destruir.
Que neste solo não cresceria mais nada quando eu tocasse os pés no chão.
Você faz fogo e afasta a escuridão dos meus pensamentos. Você constrói, e desbrava, e luta e guarda os segredos que me mantém viva.
Vivemos nesta terra imunda, o chão feito de ferro, onde nada, nada cresce, nada sobrevive se não for produto do sadismo de deuses obsoletos, cujos nomes fingimos não lembrar.
Você me diz que não crê, mas eu ouço as suas preces.
Eu sei que você deseja.
Mas eu te desejo mais, muito mais.
Eu não entendo, não sei. Talvez essa seja a minha maldição: ser a sua maldição.
E, quando você morrer, eu morro em seguida.
E vou te devorar, dia após dia.
Incansável.
Insaciável.
Seu amor, seu abutre, seu rochedo.
(queime a caixa, é o único jeito)
29/04/2024
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