24x07 Ameixa

Imagem: TingTing Huang

Me beija, sem medo do meu gosto, sem medo do meu rosto e do que acontece amanhã.
Esqueço os donos dos colchões, todos os freios e medos e a dor.
Só o que importa é seu gosto, seu rosto, o que acontece agora.
Minha pele e sua pele e a tarde escura e vazia, a curva sutil que as pontas dos seus dedos fazem, a cor das suas pálpebras.
Espero pelo momento em que seus dentes surgem, a respiração em suspenso.
Eles vêm e eu não fujo.
Eu fico, quero saber até onde podemos ir, quero saber quem somos, quero saber o que acontece no final do filme.
Eu quero, eu quero saber.
Mas aí vêm os freios e minha mania de ser um exemplo e meu medo e meu futuro brilhante e te empurram pra longe.
E não importa mais seu gosto, seu rosto, só meu medo e o que acontece amanhã.
Você molha meu rosto e o seu e eu tento derrubar os muros que acabei de construir entre nós.
Quero seu gosto, seu rosto, quero o amanhã impune.
Quero os azulejos frios, quero o cheiro de xampu, quero não desaparecer dentro de mim sempre que estivermos juntos.
Viro as costas e fecho os olhos, peço, imploro, pros deuses dos azulejos e das ameixas, da pele e das tardes ociosas pra que eu volte pra você, pra que eu fique.
Eu quero saber mais sobre nós dois e sobre a capacidade da nossa pele de trocar calor, sobre a sua respiração e a textura das suas costas.
Mas aí já é tarde.
É meu corpo, minha boca, meu gosto, meu rosto.
Mas eu já fui embora e você não consegue me alcançar.
E eu te deixei esperando de novo, atrás dos muros, atrás dos meus olhos. Sozinho com seu gosto e eu sozinha sem seu rosto.
Grito, do meu lado do muro - Não desista, não desista
E não sei se você ouve.
Mas não desista, eu quero.
Só não me acostumei ainda ao gosto, ao rosto.
A não saber o que acontece amanhã.

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