28x05 Bem querer

Imagem: TingTing Huang

Eu amo você, digo pro meu reflexo no espelho. Tento me convencer.

Eu não sei amar. Desaprendi, conhecimento obscuro, conhecimento desnecessário.
Tô tão perdida. Tô tão só, e gosto de estar só.
Não quero ninguém aqui dentro.

Ouço músicas de amor o tempo todo, tentando entender, tentando despertar aquela vontade de estar junto.
Não dá.

- Algo sério.
Ele usa essas palavras e eu busco a vontade dentro de mim. Não está lá. Eu to morta por dentro. Podre, fétida. Quero gostar de você, quero sua pele, quero beijar sua boca a madrugada toda, dormir na sua cama, invadir sua casa com meus pijamas e usar suas camisetas. Só não quero te amar, só não quero seu amor.

Quero solidão. A solidão de chegar em casa e não significar nada pra ninguém. De não esperar mais do que o mínimo de cada dia, de não querer pensar ou brigar. De estar protegida de tudo.
Quero a solidão de falar com Holden todos os dias, todas as noites, e de não esperar nada dele. Quero a solidão de juntar nossas solidões de quando em quando, só por juntar, só pra não ser assim tão só, sem deixar de estar só.

Quero sair de casa sem rumo, sem desejo, sem pentear meus cabelos ou com a roupa mais sexy do guarda-roupas. Só porque. Porque sim.
Quero sentir prazer em estar só. Quero sair com meus amigos, beber vinho e passar batom - batom que ninguém vai borrar.
Quero pentear meus cabelos porque eu amo meus cabelos meio enrolados, meio lisos, secos e barulhentos.

Quero tocar meus amigos e retirar deles todo o contato que preciso para o dia inteiro.
Quero me perder em conversas que duram horas, sem segundas intenções, sem me preocupar se esse tempo deveria estar sendo gasto com outro alguém.

Quero suprir minha necessidade de amor ouvindo músicas e assistindo filmes. Quero viver o amor dos outros, os finais felizes.

Quero a boca de quem quiser minha boca, quero o calafrio de saber que talvez. Mas não quero certezas, não quero perguntas, não quero grandes atos românticos, nem beijos roubados. Não quero confusão. Quero que me goste, mas que aceite se eu não puder gostar de volta.

Eu quero ler poesia e não esperar nada do destino. Quero me apaixonar pelo vento fresco da tarde, pelos personagens de livros, pela cor da pele de um rapaz que conheci, pelo gosto do pão de queijo com café. Quero me apaixonar pela textura dos cabelos nos quais não toco e pela sensação de chegar em casa e deitar no sofá.

Eu não posso mais amar alguém, eu não quero mais ser quem ama alguém. Não agora.

Eu quero ser minha. E não quero que ninguém seja meu.
Um dia passa.
Mas, por enquanto,
não preciso de mais nada.

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