12x04 Be like that


Imagem: spiicytuna

Eu suei. O suor escorria pelas minhas axilas, molhando o tecido sob elas, me recordando o porquê de eu não usar camisetas de malha: suo muito quando me sinto desconfortável.
O motivo da minha suadeira era um piercing no nariz.
Pensando bem, talvez fossem os jeans. Ou o cabelo. Talvez fosse a garota toda.
Ah, você pode imaginá-la: cool kid, costas retas, cabelo solto, como eu queria ser.
Desejei que ela fosse embora, Otto estava pra chegar. Ele veria nós duas, tão próximas, tão propensas a comparações e eu encolheria até quase sumir.
Ia voltar pra casa quando ele chegou. Fiquei paralisada, olhando pros meus pés, colando os braços junto ao corpo.
Ele passou do meu lado quatro, cinco vezes. Não levantei os olhos, não queria que ele olhasse pra mim.
Me deu raiva dele, de nós dois. Aquela raiva lépida que, se sai, deixa um rastro de mágoa; se fica, corrói por dentro. A minha saiu pelas axilas, intensa e doída, mordi a boca até que sangrasse.
E a garota olhando pra ele, de leve, como quem só reparou agora na existência de algo incomum - "Que fiquem juntos!", bradava minha blusa molhada.
Um ônibus quebrado cuspiu gente em cima de mim, gente que me pisou sem querer, sem reparar que eu derretia: pelos olhos e pelas axilas.

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