40x09 Better than hugs

Imagem: TingTing Huang

Não gosto de abraços,
nunca gostei.

Meu melhor amigo tem essa teoria de que pessoas precisam de um determinado número de abraços por dia.
Eu não acredito nela.

Abraços guardam duas sensações distintas,
grandiosas demais pra desperdiçar com gente que simplesmente está de passagem
abraços são sobre chegada, reencontro.
Abraços são sobre partida.

Eu poderia distribuir beijos na boca,
mas jamais conseguiria distribuir abraços.
Não gosto que me toquem.

Distribuo abraços ébrios,
abraços de cumprimento,
pequenas demonstrações de carinho
mas abraços,
ah, abraços
esses eu guardo pra momentos específicos

Abraços daqueles em que se poderia ficar pra sempre
daqueles que a gente dá sabendo que nunca mais vai dar de novo,
abraços doloridos
que deixam parte da gente na outra pessoa.

Esse texto nem era pra ser sobre isso,
mas escrever sobre abraços me lembrou desse abraço específico
que eu te dei, sabendo que seria o último,
tão intenso e breve que eu chorei, mesmo sem saber ao certo o porquê.

Esse abraço me trouxe aqui, anos depois.
Meu Deus, quanta coisa mudou naquele abraço,
quantas escolhas foram feitas,
quanta dor
por causa de um abraço.

Então, como eu poderia sair por aí abraçando
a torto e a direito
se tanta coisa pode mudar a partir de um gesto?

Entende, agora?
Eu não quero o seu abraço,
nem o contato com a sua pele,
eu não quero o seu cheiro,
ou o que você acha que um abraço deve conter,
eu não quero dizer adeus
eu não quero dizer olá.

Eu não preciso de abraços,
eu preciso de pessoas que fiquem.

Teu abraço talvez não melhore o meu dia (já aconteceu, é verdade, mas pode piorar. Também já aconteceu),
não vai me dar vontade de estar aqui,
definitivamente, não vai significar que tudo está perdoado,
nem mesmo me fazer acreditar que você gosta de mim.

Alguns gestos são melhores do que abraços,
dizem coisas que abraços nunca dirão (muito embora eles digam muito)
e eu percebi isso quando olhei para a menina que gritava ao meu lado na sexta,
pelo mesmo objetivo que eu.

A presença dela, a existência, sua vontade, seu grito
me fizeram mais acolhida do que qualquer abraço aleatório e constrangedor.
O fato de que ela ficou, sem saber quem eu era,
pra lutar por nós duas significou muito mais pra mim do que contato físico significa.

E as pessoas não compreendem ainda.
Eu mesma demorei a entender
que o amor está nas entrelinhas.

Amor está numa viagem de carro de 10 minutos,
nos seus resumos de anatomia,
mentiras contadas sem razão,
mensagens que chegam no meio da madrugada,
uma coleção de garrafas,
no gosto do chocolate branco,
garrafas de água,
feijão.

Você não precisa me tocar pra que eu saiba.

E, por favor, não me toque sem a minha permissão.
E, por favor, não tenha medo de me tocar.

É complicado.
Mas simples.

Você vai saber, vai entender
quando chegar a hora.

Mas, até lá,
apertemos as mãos.

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