3x03 Dezesseis minutos para Vinte e uma horas


Quando eu tinha 12 anos, Sofia bebeu até dormir, até que não pudesse mais sentir os próprios lábios. Antes de apagar ela me disse, com aquela voz enrolada "Não dói mais, eu disse que não ia doer mais".
Eu fiquei ali cuidando dela, daquela boneca suja de vômito, cuidando pra que ela não sufocasse com o próprio vômito, no meio daquela sujeira toda, enquanto Pat Benetar gritava We are young, heartache to heartache we stand no som da mãe dela e uma pilha de fotos nossas com o David terminava de queimar.
"Eu nunca vou amar ninguém".

Eu tinha 14 anos quando Larissa desmaiou no banheiro, o pulso direito cortado. Mickey queria dar um tempo.
"Eu nunca vou amar ninguém"

Eu tinha 10 anos quando ele bateu nela e disse "Se você odeia tanto apanhar, por que não vai embora?" e ela disse "Por que eu te amo".
"Eu nunca vou amar ninguém"

Eu tinha 16 anos quando ele a deixou esperando, sentada, enquanto fazia sexo com outra garota no banco de uma caminhonete. E tudo o que ela me disse foi "Quando ele quiser ficar comigo, vou estar esperando"
"Eu nunca vou amar ninguém"

Eu tinha 15 anos quando ele justificou a morte dela dizendo "Eu a amava demais"
"Eu nunca vou amar ninguém"

Eu tinha 15 anos quando ele deixou de falar sobre o que sentia, porque o que sentia estava sacrificando outras pessoas.
"Eu nunca vou amar ninguém"

Eu tinha 15 anos quando ela disse que o amava mais do que a si mesma.
"Eu nunca vou amar ninguém"

Eu tinha 10 anos quando ele disse que me amava. Eu tinha 16 anos quando ele disse que ainda me amava.
"Eu nunca vou amar ninguém"

Eu tinha 12 anos e ele disse que me amava. Eu tinha dezesseis e ele disse novamente.
"Eu nunca vou amar ninguém"

Eu tinha 15 anos quando ela descobriu que o amava. Eu tinha dezesseis quando ele ficou com a melhor amiga dela.
"Eu nunca vou amar ninguém"

Eu tinha 0, 7 e 15 quando ela descobriu que os amava. É sempre proibido falar da vez anterior, porque dói em todo mundo.
"Eu nunca vou amar ninguém".


- Você me ama?, ele perguntou.
- Não.
- Ótimo.
E eu saberia que ele era perfeito. O amor exige muito mais do que eu estou disposta a dar, exige muito mais do que eu tenho, porque não fui exposta a amor verdadeiro na minha vida inteira.
Dizem que é como catapora, algo que só acontece uma vez. Contagie-me.

2 comentários:

garota solteira procura, disse...

Qualquer semelhança com pessoas ou fatos reais, NÃO é mera coincidência. Eu sinto muito por me apropriar de algumas histórias, mas bastante gente conhecida já sabe, gente estranha will do no harm.

Babalu disse...

é poeticamente irônico e sádico.

e triste e, justamente por isto, tão bonito...