29x02 The night after

Imagem: TingTing Huang

Acordo, ressaca leve de mojitos, falo com Holden, tô chateada
Descubro uma barata na minha cama. Feito G.H., tenho uma dessas epifanias baratas e meu dia simplesmente se torna um desses dias depois.
Ok, ontem não foi legal.
Mas foi só a primeira festa do ano, penso comigo. E eu não tenho que me divertir sempre que saio. Nem tudo é bom.

Tomo banho, olho as roupas em cima da cama. Tudo escuro, tudo igual a todos os dias. Não corro riscos.
Roupas de sair.
Dou uma risada louca, jogo tudo no chão e decido ir com o que eu quiser.
Visto minhas roupas mais doidas, mais disparatadas, repelentes de homem, que gritam OI EU SOU MALUCA, EU SOU A PESSOA MAIS DOIDA QUE VOCÊ JÁ TEVE A SORTE DE CONHECER E VOCÊ VAI TER MUITA SORTE SE EU FALAR COM VOCÊ
Sapatos confortáveis, porque eu vou dançar muito
De repente, eu só sei que meu cabelo é louco demais, excêntrico demais, e não ligo, passo todas as cores do arco-íris nos olhos, batom azul só porque não é roxo, porque eu não sou bonita e comportada feito as outras garotas, não. Eu sou o que quer que eu seja. Acho que nem tem um adjetivo pra isso ainda.
Jogo perfume pra cima e danço embaixo dele, sem me preocupar se alguém vai sentir esse cheiro. Eu sinto. É cheiro de biscoito.
Olho pro espelho e digo pra mim mesma, "você é--- bom, eu não sei :) Mas é bom"
Dou risada da minha burrice, pego James - já bêbado - e vamos pra essa festa sem ter a menor ideia de onde é, nos perdemos, gritamos, pedimos informação.
E chegamos.
Paro o carro ouvindo a música e bebo, bebo muito, de uma vez só, bem rápido, e tudo fica mais engraçado, tudo parece mais possível. Ficamos na fila, e a fila é engraçada também, dançamos e contamos histórias sobre as nossas vidas terríveis e sem conserto, tão engraçadas e poéticas, clichês.
No fim da fila, uma menina pede pra entrar na fila dos aniversariantes e eu simplesmente tenho que abraçá-la porque ora, é aniversário dela, e eu tô tão bêbada que a abraço umas mil vezes haha :)
Meu amigo ri, ficamos amigos quase que instantaneamente.
Eu estou tão bêbada que não vejo a festa passar, só um monte de gente, luzes luzes e eu não sei o que está tocando mas eu tenho que dançar, eu não posso parar, vou ao banheiro, encontro um conhecido e isso não me irrita porque eu o amo também, eu amo todo mundo, eu só quero que todo mundo se divirta.
Danço sem parar.
Meu amigo vai ao banheiro e esse cara fala comigo, eu não entendo metade do que ele diz, eu nem consigo pensar muito bem, nos beijamos e eu simplesmente sei que ele está fazendo aquilo errado.
Sei que a coisa toda está errada.
Mas beijar é bom e eu sinto uma vibe legal nesse cara com quem eu provavelmente não ficaria se estivesse sóbria, por que não só hoje?
Então eu tomo o controle de mim mesma, vem cá, eu te mostro. E ele vem, dócil, me mostrando toda aquela vontade que as pessoas têm dentro de si, e isso me deixa feliz. Gosto desse momento, já disse, em que as pessoas demonstram vontade.
Ele me beija de volta, a música tocando alto, atravessando meu corpo todo, e eu rio alto, ainda meio bêbada. Ele fala comigo, e eu não entendo de novo, e o beijo, simplesmente porque tudo bem. Porque eu estou usando essa roupa improvável, alguém passou por nós e fez cara de choque - o que me faz pensar que ele não deve beijar muita gente - e eu o beijo por isso também, porque ele não é o meu tipo, porque eu não sou o tipo dele, porque sim.
Depois perco a vontade de beijá-lo, porque eu faço isso, e ele demora pra entender, mas acontece e ele some em meio à multidão.
Danço. E dou risada, Faço mais uma amiga, e danço como se não houvesse mais nada pra mim lá fora. Na verdade, acho que não tem mais nada lá fora pra mim, porque eu estou aqui dentro. Tudo o que eu tenho. Eu.
E isso não é ruim, eu sou incrível, do meu jeito.
Danço e giro sem parar, tocam uma música que tem um significado muito especial, tocam todas as músicas de que gosto e eu agradeço dançando. Eu amo tudo isso, eu amo não saber dançar, e essa roupa e quero que me amem também, mas isso é tudo o que eu tenho.
E é mais do que suficiente.
Um cara bonito me olha nos olhos e eu só sei, daquele jeito que a gente sabe. Olho pro lado, olho pra ele, e estamos dançando ao redor um do outro, um cara me pergunta meu nome e diz pra ele, ele sorri de longe, meu amigo diz algo pra ele, e ele sorri pra mim, estende a mão.

E eu estendo a mão de volta.

Porque sim.
Porque pode ser bom.
Quero começar de novo.
Quero estar pronta pra quando acontecer,
Quero me dar uma segunda chance.

Feliz ano novo.

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