12x15 A pata do macaco

 Imagem: turtlemoon

E o 16?
Saio de casa tarde, faço figa: Quero vê-lo, pra me dar sorte na prova.
Corro, derrapo, tropeço, continuo correndo: lá vem ele.
Todos em suas posições, ele olha pra mim - e não me vê, é claro -, eu olho pra ele, eu desvio o olhar, leio a capa de um livro - mas continuo vendo só ele.
O coração dói na goela, devaneio sobre pasta de dente, sou bonita, B-O-N-I-T-A. Dia cinza, sem óculos de sol, sem chuva, minha música favorita no repeat, mexo os pés.
"Oi sua menina, mas que bonita a sua roupa, muitcho louca. Eu também sou bonita (:", minha felicidade infantil me acalenta, é sexta-feira, eu não dormi nada, mil coisas já deram errado, mas tem Otto. E Otto vale dez mil coisas certas.
Danço com os pés e os dedos. Vem chegando um ônibus, faço figa: nem meu, nem dele.
(não é que funciona?)
Peço com força, figa dupla, quero muito tempo com ele hoje.
Ficamos assim, ele de um lado, eu de outro, assim só, e eu gosto disso.
Passam 2, 5, 10 minutos, eu não vou chegar a tempo, mas ele também não.
Passa tempo demais. Eu tinha me esquecido de que Ginger também tem horários a cumprir. Ela chega BONITA, e eu bonita, bonita, bonitinha... Fala com ele. eu ouço, mas não vejo, sinto um nó no estômago.
"Vai embora, vai embora, eu já te vi demais", mas eles conversam. (a voz dele parece sempre sorrir, uma dessas vozes que vem com pausa pra sorriso depois das vírgulas).
Me afasto, assim, miudinha, como se tivessem me encolhido. 1, 2, 3 passos pra trás, longe da voz de Ginger.
Mas a figa dupla já foi feita, meu ônibus chega, gente saindo pelo ladrão. Ouço a voz dele dizer "Vamos nesse?".
"Não, não vem comigo!", isso eu pensei como se morresse, porque não o queria próximo, o queria longe, inatingível: mais platônico que tudo.
Subi às pressas, não sei como me enfiei no meio de tanta gente, talvez estivesse mesmo miúda. Fui pro fundo, ele ficou na frente.
Vagou um lugar e eu me sentei assim, de modo que as costas dele ficassem na minha frente. Desliguei os fones, fiquei fingindo ouvir música, mas a música era a voz de sorriso dele. Não me lembro de uma só palavra que ele tenha dito, só da sensação boa, de "finalmente".
E fingi ler, pra ter pra onde olhar caso ele se virasse. Mas não se virava, falava pra frente e eu pude admirá-lo feito uma adolescente boba.
Então alguém gritou "Otto!*", e ele se virou, e eu fiquei boba, atarantada com a descoberta daquela informação não requisitada.
Mas, com nome ou sem ele, o melhor que eu tinha a fazer era abaixar a cabeça e descobrir se os Winthrop tinham mesmo sido assassinados, antes que alguém notasse que meu sorriso chegava às orelhas.

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