30x19 Beneath the skin

Imagem: TingTing Huang

Ando meio preocupada.
Com amor.

Por que é que eu tenho que amar alguém pra não me sentir perdida e vazia?
Eu não posso viver assim, ver os dias passarem, dar risada, ouvir músicas de amor que são só músicas de amor - dos outros?

Estava sentada olhando a raiz dos seus cabelos e me perguntando
Como é que eu ia viver daqui pra frente.

Sobre o que é que eu vou escrever?
E quando eu assistir um filme de amor, o que é que vou sentir?

Ando me sentindo meio pressionada, obrigada a amar alguém.
Mas eu não quero.
Eu quero que as músicas sejam só músicas, que o casal no seriado fique junto porque sim, mas eu não tenho que ficar junto também.
Eu não me sinto capaz de ficar junto.

Eu quero sair por aí.
Lavar o cabelo, respirar bem fundo.

Eu quero limpar o fogão.
E ler sobre mielomeningocele.
Eu juro que quero.

Mas aí me invade essa ideia antiga, esse devaneio de um beijo que nunca veio. A textura desconhecida do seu cabelo, do seu rosto.
O cheiro que eu nem sei se você tem.
E o jeito como seus cotovelos são estranhos.

E eu fico, momentaneamente, tentada. Sinto vontade de tentar de novo, de seguir em frente. Bater a cabeça na parede, chorar as pitangas.

Entro no carro, coloco a playlist no aleatório, me pergunto como é que você se sente sobre mim.
E, de repente, tô imersa naqueles devaneios de nós dois, que parecem nunca desgrudar totalmente da carne, ficam à espreita, escondidos num furinho lá debaixo do dedão do pé. Naquela pontinha do cérebro, donos de uma frequência única que ressurge nessas tardes quentes e insossas.

Mas eu não quero amar ninguém.
Nem você.

Eu quero chegar em casa e respirar fundo.
Não sinto saudade do coração querendo sair pela boca, nem da ansiedade gigantesca, da vontade de largar tudo, do romance, da dor.
O que eu sinto é que a vida perde um pouco de sentido sem isso.

Mas é coisa de hábito.
Hábito de pisciana, se apaixonar a torto e a direito.
Hábito que quero largar.

Ouço "Elation", aperto no peito, vontade daquele amor tranquilo e bom, que eu nunca tive, talvez nunca tenha, porque eu não sei amar ninguém.
E tudo bem.

Eu não quero amar ninguém.
Nem mesmo você.

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