Early cuts: Of moon, waits, birds and worms.


(Da lua, esperas. pássaros e vermes)

Aqui se faz, aqui se paga dobrado.
Era uma vez uma garota que se transformava em pomba. Ela viu tantas coisas por aí, teve tanto, deixou tanto pra trás. Mas ela não se arrependeu. Nem por um segundo. Porque o desejo dela era chegar aonde ninguém conseguia e encontrar algo arrebatador.

Minto. Isso era em sonho, onde ela era o que queria, a menina-pomba. Tinha os olhos tristes, asas grandes e um defeito no trem de pouso, as pernas atrofiadas.
Mas a vontade de voar era grande, maior que uma perna atrofiada, maior que ela.
E ela partiu, saiu de seu lugar sem lançar sequer uma olhadela pra trás.
O vento lhe levava ruídos de pombas meninas e pombos - meninos que se aproximavam. E ela se esforçou tanto... Mas encontrou um obstáculo e soube que não passaria por ele. Estava condenada.
Sua vontade batia contra o obstáculo e voltava. Era maior que as pernas, maior que a pomba, mas não era maior que o obstáculo.
Ela se sentou e esperou pela morte, mas a morte não veio. A morte ia longe dali, esquecida do próprio trabalho. E a pomba foi ficando, esperando.
Quando já estava cansada e faminta, olhou em volta. Chão sujo, paredes e olhos... Olhos? Sim, olhos. Uns tristes olhos de pomba, olhos de menina.
"É a morte", pensou a pomba.
Mas a menina-morte lhe sorriu e lhe levou migalhas grandes de pão.
"Muito grandes", pensou ela.
E a menina-morte-leitora de mentes entendeu e lhe levou migalhas menores.E água.
Os olhos tristes da menina-morte a assustavam um pouco mas



Eu nunca escrevi o fim. Ela se chamava Tal, a pomba-menina, não a menina-pomba. E eu a deixei sozinha, o único ser no mundo que me olhava como eu olhava o mundo, eu a abandonei e ela morreu sem mim, com os olhos voltados para o céu e a boca cheia de pó.
E eu espero que ela saiba que eu não o fiz por mal, enquanto os vermes rastejam dentro dela, roendo o pequeno cadáver que eu amei por algumas horas de um dia tedioso.

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