34x09 Remain Nameless

Imagem: TingTing Huang

"Acorde"

Um grito no meio da noite.
Abri os olhos e a realidade baixa aos poucos, sem se encaixar nos lugares certos.
Eu não sou eu.

Há quanto tempo isso não acontecia? Semanas, meses. Talvez um ano.

Tomei alguma coisa, alguma droga, provavelmente, e não conseguia me defender de mim mesma.

Ela abriu meus olhos, assustada, ferida, todas as sensações a que ela jamais tinha acessado, de uma vez, cegando, enregelando, machucando, nauseando, ensurdecendo, enlouquecendo.
Sem nome, sem saber nada do mundo, a fera saiu de seu útero escuro, úmido e fétido.

E correu, sem saber como se corria.
A experiência, de que eu já tinha me esquecido, assemelhava-se um pouco a colocar a mão em uma luva ao contrário, dedão no espaço do mindinho.
As coisas não se encaixavam.

Ela se sentia mal, uma experiência mal sucedida, Frankenstein, mas não achava as palavras, coisa recém-criada.
Tentei explicar, tentei entender, mas não consegui.
Ela estava assustada, não me ouvia, não entendia, e eu me sentia engolfada por todo aquele medo, aquela dor.
Tentei acessá-la de todas as maneiras, acalmá-la, mas o pânico era imenso. Maior do que qualquer coisa que já senti nos últimos dias, talvez, desde muito tempo o sentimento mais intenso que já tive, nada romântico ou sexual: medo.
Assim como ela surgiu, foi embora. No outro dia, pela manhã.

Mais uma, de tantas, pensei, enquanto tomava meus remédios negligenciados.
Ela vai aparecer de novo, em algum momento.
Tenho uma certeza enorme disso. Acho que acontece porque, apesar da falta de jeito, a conexão pareceu a certa.
Natural, de um jeito completamente novo.
Aquele medo, aquela dor.

Quem quer que seja a mulher sem nome, a besta silenciosa e arredia que saiu do escuro usando meu rosto,
tenho a perturbadora impressão de que, de todos os fragmentos dessa minha mente transtornada,
aquele era o que mais continha pedaços de mim.

Era eu, na minha versão original, sem cortes, sem extras.
Eu.

E nos encontraremos de novo.
Disso, não há a menor dúvida.

0 comentários: