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Imagem: TingTing Huang

Eu te espero voltar enquanto o almoço esfria sobre o fogão.
Mas você não volta, você nunca mais volta.

Quem é você?

Eu não te reconheço, mas você não mudou nada. Sempre foi você.

Eu me apaixonei pela sombra escondida nos seus olhos, o jeito como os fios do seu cabelo teimavam em crescer.
Eu me apaixonei pelos seus sonhos.

Por tanto tempo, você foi a mão errada dentro da luva, um inseto preso no quarto, batendo na janela e tentando sair. Sentindo o vento, sem saber de onde ele vinha.

Eu amo você.
Eu amei você desde o primeiro segundo. Antes mesmo de te ver.

E, agora, eu te vejo.
Eu te via antes, fragmentada, nas pontas dos dedos, na respiração, na cor rosa da sua língua a roçar sua gengiva, na respiração, nas pausas, no toque. Mas agora é diferente.
Eu te vejo, por completo.

Eu te vejo quando abro os olhos pela manhã, e você me sussurra um bom dia doce e delicado, o seu bom dia.

Eu te vejo, e te amo, então tampo as panelas e distraio o estômago com um copo de suco
enquanto espero que você volte.

Mas você não volta.
Você não é como eu, você não simplesmente vai e volta, liga e desliga.
Você é.
Eu simplesmente existo, eu não sou.
Você é.
E, uma vez que se é, não se pode esconder.

Não esconda.
"Eu estou doente", digo, em tom de segredo, "mas você não está. Você é, e a doença, meu amor, a doença é existir. Você é".
Retiro sua máscara, com toda a delicadeza
e você é linda.
Você é.

E eu queria entender, queria saber, queria te proteger, eu queria
Mas não é sobre mim. É sobre rios, sobre saber quem você é, sobre ser, sobre você.
Então abro bem as janelas, pra que você possa voltar e sair quando quiser, voar pra bem longe, pra um lugar onde você possa ser.

E eu espero, meu amor, que eu também possa encontrar esse lugar ou, ao menos,
uma cura
pra minha própria existência.

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