34x16 Eastwood

Imagem: TingTing Huang

Chego em casa do cinema, meus amigos me chamaram pra sair de novo: não quis.

Eu queria mais.
Ou menos.
Nem sei.

Cabeça pra fora da janela, tudo fica bem, tudo fica estável, tudo parece controlável num mundo em que toca Home e Elephant Gun, mas aí desço do carro e sou só eu.

Falo com Pégaso.
Não resisto, crio assuntos, deixo mensagens implícitas e falo e leio a resposta e não é o bastante.
Não é.

Viajo pela lista de contatos pensando em procurar alguém pra conversar, um desavisado, perguntar a ele sobre a lua e sobre a estranhice.
Mas acabo chegando no teu nome, Otto, e percebo que quero mesmo é falar com você.

Chamar.
Mas o telefone não chama, impossibilitado de receber chamadas. Chamadas minhas.
Deixo recado pra ninguém ouvir, de mentirinha.

Oi
Tudo bem?
Sou eu, Bels.
Tô te ligando porque sinto a sua falta.
Queria falar com você.
Sobre nada específico, só bobagens.
Você se parece com o Clint Eastwood de anos atrás, sabe?
Até no jeito, ele faz aquela coisa, a cara de mau. Resting bitch face, haha.
Sinto falta disso.
Quero te contar sobre a República Dominicana e músculos do antebraço.
Suturas e essa carta que escrevi sobre ir atrás de você.
Eu quero falar de você, quero ouvir sobre você.
Tenho medo de nunca mais te ver.
E eu preciso te ver de novo, Otto.
Eu preciso te ver de novo.
Eu preciso te ver de novo.
Eu preciso te ver de novo.

E, de repente, estou pedindo,
rezando,
implorando
para o aparelho de celular

mudo.

Estou ficando louca, Otto.
Um dia desses, vou arrumar a mochila e ir atrás de você.

Metal e ossos na cidade de concreto.
Vamos nos ver de novo, Otto,
quando estivermos prontos.

Eu preciso te ver de novo e,
talvez você ainda não tenha se dado conta,
mas precisa me ver de novo também.

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