34x13 Redoma de vidro

Imagem: TingTing Huang

Demorei muito pra escrever sobre isso.
Mas, lá vou eu.

Eu fui assaltada. Eu, James, osGênios.
Levaram meu celular.
E levaram outra coisa, também.

eu tô com medo.
Levaram algo, algo

Levaram minha casa, minha Brasília, o único lugar em que me senti segura na vida.
Levaram

Levaram a beleza dos estranhos que se aproximam, e das noites escuras.
Levaram minha capacidade de ouvir.

Eu tenho medo,
do escuro, das janelas abertas, de voltar sozinha pra casa, de demorar pra entrar no carro, de sair das festas.
De dormir.

Não tá tudo bem.
A cidade era minha, minha cidade, minha casa. Uma mulher gigantesca de concreto e vidro a me segurar pela mão,
Sólida.

E eu quero isso de volta.
Quero de volta as sensações fúteis, o não me importar com quem vive e quem morre, ou com amor e outras bobagens.
Queria que o tutorial fosse a maior das minhas preocupações, e não tremer de medo quando tenho que descer pra levar o lixo.

Eu não sei quem você é. Eu não sei da sua vida, da sua história. O que nos separa são milhares de oportunidades, de privilégios invisíveis dentro dessa minha velha redoma.
Eu não sei como é ser você,
eu não sei o que sentir sobre você.

Mas eu peço encarecidamente que me devolva.
Pode ficar com o celular, as músicas, as lembranças, as conversas.
Eu quero minha inocência de volta,
eu quero me sentir segura,
eu quero não ter medo de cada homem e mulher que surge ao longe,
e quero voltar dirigindo sem rezar pela minha vida, pra ficar salva, pra ficar sã.

Eu só quero de volta a sensação de ser imortal,
de estar segura.
Pode ficar com o resto.
Eu só quero voltar a ser eu.

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