36x12 Out Loud

Imagem: TingTing Huang

Medo.
Eu me lembro do medo, do gosto, do cheiro, do toque.
Fiquei lá no meio de um mundo de pessoas, carros e prédios, um céu enorme. Meu Deus, como sou pequena.

Senti medo da dor, da morte (um medo contínuo e familiar), dos passos, da perda.
Senti medo dos movimentos da tua mão e meu coração parou cada vez que a perdi de vista, a cada movimento a favor do vento.
Camisetas vermelhas, pretas, brancas, azuis gritavam em meus ouvidos e eu tinha medo.
De onde vem, onde fica guardado tanto medo?
Freud explica, ele sabe de tudo, afinal.
Sabia até que eu tinha medo de estar com medo, abri a boca pra pedir casa e trégua, mas gritei palavras rimadas, manifestei meu descontentamento. E isso me deu força, ombros novos: eu estava ali pra lutar.
Pra apanhar, pra morrer, pra sentir dor.
Aquilo era maior do que eu, infinitamente maior do que afetos mesquinhos, centavos e brigas.
Meu coração gritava e se desfazia em pedaços murchos de carne, mas minhas pernas continuavam, também meus pés, e a boca gritava.
Eu quero passe livre, eu quero. Eu quero. Eu não quero pra mim, eu sou só um pontinho, eu quero pra eles, quero, quero agora, e não paro de gritar.
Mas parei.
Senti medo, um medo súbito de que alguém se machucasse.
Olhei pra eles, sentados nos seus carros grandes com gás e balas de borracha pra acertar em crianças, em gente que só queria ganhar pra todo mundo, prontos pra machucar, carregar, reprimir.
E me deu medo.
Não por mim, eu já não era eu, tirei a blusa da cintura e esperei o momento de usá-la pra tapar meu rosto.
Deu medo por uma menina pequena, toda feliz, olhos castanhos clarinhos com dois pontinhos na íris esquerda, quatro pintinhas estrategicamente plantadas em lados opostos do olho esquerdo e que tem covinhas no queixo quando sorri.
Não era pra ninguém se machucar, vambora.
E eu até fui,
mas não podia ir.

Porra, B., minha cabeça gritou
Seja Alice.
Uma vez na vida, seja Alice.

355, dê as costas pra tua mania de segurança e volte.
Eu não podia nem hesitar ou parar pra raciocinar.
Tinha que voltar, pra apanhar, pra bater, chorar.
E isso não faz de mim uma pessoa melhor, não faz de mim uma heroína, a super B.
Eu só estava cansada, eu tô cansada de ir e vir nas escolhas que faço.

Seja Alice, porra.

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