37x12 24 horas ou a assistente de mágico

Imagem: TingTing Huang

Começo meu aniversário estudando, tiro um cochilo, não consigo me concentrar nos meus pedidos, acordo, leio sobre Volvos Intestinais e agora tô escrevendo, cagando as tradições anuais.

Por que?
Annabel disse, no começo do mês "Não faça planos". E é por isso que aceito o que a vida deu, vou ao cinema acompanhada, almoço acompanhada, durmo, faço tudo errado, o livro que eu queria é caro demais, tô pensando em abandonar um pouco as tradições e só fazer o que tiver que fazer, quando tiver que fazer.

Acendi uma vela na janela,
mas não soube o que pedir.

Coragem, sempre, essencial, maravilhosa. Mas tem mais alguma coisa. Tem outra coisa de que preciso.
Porra, que ano longo.

E eu tô viva, minha boca tem o gosto horrível de sono, eu tô estranhamente descansada (pra quem só dormiu uma hora e tem que acordar daqui a pouco), estranhamente calma. Daqui a pouco, começam a chegar as mensagens, os abraços.
E eu estou viva.

Às vezes, eu não tenho certeza de quanto consigo aguentar, de qual é o meu limiar de dor e incerteza. Se eu vou estar aqui pra ler todos esses livros na minha estante. Então, eu me sento aqui, na frente da estante, e eu desejo, com todo o meu coração, estar aqui pra ler "O teorema Katherine".
Ler "The solitude of prime numbers", que eu comprei pra um homem que já não amo mais, e que não me ama mais.
Quero chegar o fim do semestre lendo "Nick & Norah", pra me lembrar de quando eu era uma romântica incurável, pra ler com esses meus olhos mais velhos, mais cínicos.

Eu tô viva e eu gosto disso.
Gosto das possibilidades.
Gosto do meu corpo, sou apaixonada pela textura dos meus cabelos, eu tenho que tomar decisões diariamente e lembrar a mim mesma que eu consigo fazer isso.

Eu não tenho a menor ideia do que acontece daqui pra frente.
Mas eu quero descobrir.
E isso me surpreende.

Eu quero sair de casa.
Conhecer pessoas.
Eu quero sentar em algum lugar dessa cidade com vento soprando, e quero sentir que dá pra respirar. Que tem ar suficiente pra mim aqui.

Eu quero usar um vestido azul.
E transformar meu corpo em uma onda.
Eu quero esperar. Pelo cara certo, no momento certo. Tô mesmo cansada de magoar as pessoas, de acordos e de sentir que tô perdendo tempo. Eu não consigo mais fingir gostar, eu quero sentir muito.
Eu quero te deixar pra trás, assim como as coisas que eu nunca disse a ninguém.
Eu quero o que a vida tiver pra oferecer, o que eu quiser aceitar.
Não sou madura o suficiente pra pedir essa coisa, essa pessoa. Arregalei os olhos só de pensar que, talvez, seja isso o que eu queira pra vida. Não. Definitivamente, não.
Bom, eu quero acordar de manhã.
E eu quero voltar pra casa sã e salva.
Eu quero retribuir o amor das pessoas, preciso aprender a fazer isso porque me mata um pouquinho cada vez que tenho que ouvir alguém que amo me dizer que acha que não sinto o mesmo que esse alguém sente por mim.
Eu quero me apaixonar. Bilateral, por favor, gênios dos aniversários.

Ano passado, eu quis bravura.
Coragem pra fazer tudo e mais um pouco.
E eu consegui.
Eu fiz tudo,
eu me declarei
eu falei em público
eu tirei minhas roupas
beijei todo o mundo
viajei
briguei
decidi
aceitei
pedi desculpas
e não pedi desculpas
falei o que me veio à cabeça

Esse ano, eu preciso de esforço, de força.
Preciso me aprumar,
forçar minha entrada no caminho certo,
no caminho errado.
Preciso de força, preciso de foco
preciso de esforço.
Preciso de esforço pra levantar da cama pela manhã e pra dormir à noite,
pra respirar
pra ser o melhor que eu puder ser.

Vela na janela, podemos começar de novo?

Eu desejo, eu desejo, eu desejo
Força
de vontade
de atrito
de aceleração
empuxo
de expressão
daquele tipo que mantém a galáxia coesa.

Sopro a vela,
escovo meus dentes,
nem sei se vou acordar daqui a pouco,
mas tenho que acreditar que vou.
E partir daí.

O que vier, eu aceito.

Feliz aniversário.
Pra mim,
de mim.

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