37x13 Você podia vir

Imagem: TingTing Huang

A gente se senta na mesa de um café chamado Serendipity. Eu tenho uma luva e você outra.
Você ri.
E, alguns segundos depois, eu me esqueci de como era o seu sorriso.
Não sei nem se você realmente sorriu.
Ou se eu sonhei.

Você toma seu café e fica constrangido com o meu silêncio repentino, começa um assunto ameno, que eu respondo da melhor maneira, sem conseguir parar de pensar em te beijar.

Oh, fuck.

Puta complicação, você tá me contando uma história sobre futebol, sobre essa garota de quem gosta, e eu não tô entendendo nada, não tô me entendendo.
A garçonete me traz um suco de laranja, te olha por tempo demais e eu sinto um puta ciúme, quero tirar satisfação, mas você nem percebe e volta a me dizer essas coisas que não entendo.

Você abre a boca, diz algo que rima com
eu te amo
mas era só uma coisa qualquer,
fico toda arrepiada à toa
porque você só tá tentando me explicar essa história que aconteceu em um filme,
sem nem saber que eu tô aqui pensando
se eu te amo,

se sou capaz de amar alguém,
no meio dessa dor do caralho,
nessa confusão de letras, rimas e com essa minha falta de foco.

Dou risada de algo que você diz,
mesmo sem ter entendido,
e você parece satisfeito
e isso me deixa feliz.

Mas não quer dizer nada.

Alguém me pergunta o que tô esperando que aconteça, de que provas preciso
da conformação perfeita das estrelas
a previsão exata no zodíaco me dizendo "VOCÊ ESTÁ APAIXONADA PELO CARA DE CAMISETA BRANCA"
a cura pra essa doença que é viver numa fantasia antiga
uma carta do tarô que signifique "ANDA, CARALHO"
um sonho que signifique que é você quem eu quero, sem dúvidas
uma mensagem, uma ligação no meio da noite
você, dizendo com todas as letras, sem hesitar,
que sou eu.

Você podia vir,
arrancar o chão sob os meus pés,
me beijar,
tirar meus livros da ordem,
deitar comigo pra ver as estrelas,

e, mesmo assim,
eu não acreditaria.

Então, termino meu suco de laranja, peço a conta, você me abraça, me deseja sorte, e vai embora, de volta pro seu mundo organizado e silencioso, meio mágico demais
e eu fico te olhando ir embora, sem saber se tô triste
sem saber se tô feliz

sem saber se te amo.

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