14x09 Uma verdade inconveniente

Imagem: TingTing Huang

- Quanto tempo - diz a Gypsie, a guisa de oi.
Não digo nada, aflita, Helen, num conto que escrevi.
Limpo os pés no carpete encardido, entro.
O velho cheiro de incenso e chá me invade as narinas (He'll hit you, get you), já estou em casa.
Formalidades a parte, nos sentamos na mesa bamba e as cartas são embaralhadas, cortadas, viradas.
Eu quero vê-lo.
Quero desesperadamente me certificar da existência dele. Mas, se não posso, pergunto às cartas.
Elas me dizem que ele vai mal (não entrarei em detalhes).
A vontade de vê-lo me rasga em 3. Seguro o pulso dela "De novo".
A Gypsie nota meu desespero. Embaralho de novo, ela abre.
- Hm, você tem um problema, meu bem. O seu ponto fraco, nesse caso, é que você quer muito, você espera de mais de algo muito frágil. Mas você tem um ponto forte: sua impulsividade.
(Sorrio. Nunca fui impulsiva, mas, quando se trata de Otto, cometo os erros mais estúpidos)
- Olhe, querida, você diz que tem algo que te incomoda, mas essa carta mostra você agora e ela fala de paz, de busca pela felicidade, alívio. Eu não sei o que você procura, mas as cartas dizem que as coisas já estão no caminho certo.
-Sim, continue, peço, por favor.
Bem, a solução é - ela faz sua pausa - É o que eu disse: a solução é mudar, concluir isso. Evoluir.
De certa forma, era o que eu esperava. Meus olhos começam a arder - tem acontecido muito. Me levanto depressa, como normalmente faço.
- Tem mais uma.
- O quê? - pergunto
- Tem mais uma. É um conselho.
Eu estou pronta pra ir embora, mas me agarro a esse conselho como se fosse a única coisa que pode me ajudar, o sinal pelo qual tenho esperado.
- Revele a verdade. Mesmo que vá causar algum dano.
Por um instante, não entendo o que ela quer dizer. Tem tantas áreas da minha vida cheias de mentiras que...
Ah. A verdade.
- Obrigada.

Saio em direção de mais uma dessas manhãs enlouquecedoramente iluminadas.
A verdade. A verdade vai acabar com tudo. Mesmo que cause algum dano.
Considerando os tipos de danos que isso pode causar, prefiro nunca mais vê-lo.
Talvez seja mesmo melhor eu amá-lo pra sempre.

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