15x03 Clocks

Imagem: TingTing Huang

No tempo certo. ("perfect timing")
Tenho meia dúzia de seringas sobre a mesa, uma óbvia preparação pra um futuro talvez próximo.
E pó. Pra morte inteira.
Lavo os cabelos com algum xampu cor de rosa, meu rosto cheira a perfume adolescente.
Me sento a favor do vento, as mãos parecem mais enrugadas.
Me pergunto se suportaria o surgimento das pintas.
As costelas cada vez mais escondidas no espelho dos meus olhos e garrafas plásticas flutuam na água limpa.
"Eu venci", digo pra mim mesma, "Eu venci". Mas não tenho pra quem dizê-lo.
O relógio diz 13:31, ora 02:02, eu queria acreditar nele, mas o tempo vive querendo me enganar.
Como, sem beber, rápido.
Tem tanta coisa, tantas imagens, tanta gente pra sentir falta. Até gente que não existe.
Pra mim, dose dupla. Tripla. Tenho mania de álcool, desinfeto.
Tenho mania de muita coisa.
Penteio meu cabelo parcialmente queimado. Minha mão dói, são as vibrações misantropas que ando soltando.
A visão borra, castigada pela luz do sol, dos seus fios de cabelo caídos no pavimento ("Três gotas de sangue no pavimento para o gigante").
E Deus nessa história? Ele diz "fim", não dos tempos, mas dos dias, dos quase 400. Eu digo "não", mas tiro o contador da tomada.
"Logo, logo, chega Junho e chega alguém pra consertar meus relógios molhados de chá", penso, enquanto passo pomada nas têmporas e vou dormir.
Dessa vez, sem programar o despertador.
Não me ligue, não tenho hora pra acordar.

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