Early Cuts: Things I'll never say


Luana me liga bem cedo, deseja sorte. O suco me sobe de volta à garganta e não respondo, desligo.
Ao invés de tomar banho logo, deito na cama e fecho os olhos, tentando me acalmar. Ligo o som ("Oração", da Banda Mais Bonita da Cidade), fico mais nervosa.
Banho, calcinha, cabelo, maquiagem, bolsa, 2 sutiãs depois, saio de casa ouvindo o que acredito ser Age of Rockets.
Tô na esquina, não o vejo. Respiro fundo, aliviada, resignada, amém. A sensação não dura muito, lá está ele, como se sempre tivesse estado ali, como se não tivesse passado um dia, um segundo sequer desde a última vez. Lembrança, fotografia, sonho em voz alta, que seja.
Toco na bolsa, pronta para sacar delicadamente o presente de Natal que fiz pra ele. Minha mão trava no zíper.
Nunca estive tão longe de quem eu era, da corajosa Bels dos meus nove anos, da pessoa que pensei que seria. Se meu eu de 9 anos pudesse me ver abraçada aos livros pra espantar a tremedeira, ela mesma marcharia até ele e, puxando-lhe a camiseta, diria: "Ela tem algo pra te dizer".
Nem me lembro mais em que entroncamento da vida - ah, sim, acabo de me lembrar - me tornei tão fraca, tão covarde.
Nem a possibilidade de não nos vermos mais, nem as possibilidades de NÓS me assustan ou atraem tanto, de tal forma que me sinta impelida a balbuciar um simples oi.
Boca seca, pernas bambas. Te deixo ir embora, fico mais uma vez com teu presente numa mão.
E o coração na outra.

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