4x08 Giz, Egocentrismo, Mães e Maligrasse


Meus músculos se contraem à entrada dele. Ele olha pra mim e eu sei o que ele pensa, ele se pergunta sobre mim. Questiona o meu comportamento e meus olhares dirigidos às suas dobras do olécrano, à sua ulna.
Considera se o estou desnudando,
i like it soft, i like it wet
i like my make up in a mess

e até onde imagino seu corpo. Ele não sabe que sua nudez não me interessa, mas o que vem depois dela, em cada sentido.
Por isso, torno aos meus limites. Cheiro de giz.
and i won't stop until my tears are all shed
Três passos e lá estou eu, entregue a Maligrasse. Suas hélices, seus lóbulos, seus cabelos obstruindo meus pensamentos com aqueles fios dóceis e com seu rubor. Ele me lembra o ruído seco de beijos e risadas e ele cheira e vive.
let it fall
enjoy this moment

Eu me sento e meu braço lateja, retirando-me de Maligrasse e beijos ruidosos.
Meu braço esquerdo teima em ficar contra mim.
drip-drop till i cannot stop
can't stop

Ele o deseja. Da clavícula à elevação tátil, ele treme por ele. Minhas pregas soletram o nome dele e meus dedos chamam a atenção para pequenos eventos dos quais ele fez parte.
i cry for you, cry for you
i cry because i cannot help it

"Eu o quero!" Ele me arranha, esmurra e eu me recuso a ceder. Ele se deixa cair, parvo. Mas não se dá por vencido. Por dentro, grita alto, machuca-me os tímpanos, pressiona as partes mais frágeis e famintas do meu corpo.
Grita e grita porque sabe que, eventualmente, ele vai escutar seu apelo e acordar numa erupção barulhenta e aflitiva que vai me roer.
so it runs and it falls
and ain't no stoppin' at all

Da borda às extremidades. Serei humana outra vez.

4x07 Farewell to May


O telefone toca e eu não atendo. Minha pele cheira a café e minhas unhas estão pretas de terra.
Há grama colada em meus ossos semi expostos e meus cabelos estão, de novo, caindo à minha volta.
O telefone continua tocando e eu me dou conta de que, talvez, quem sabe...
Rastejo até lá, tomando impulso com minha perna boa enquanto a outra se deixa arrastar, morta, podre.
Atendo, ofegante.
Não.
Secreções ácidas escorrem, queimando o telefone, queimando minhas mãos.
Arranco a pele queimada, expondo a carne viva. Começo pelas palmas das mãos e vou arrancando a pele, me descascando. Braços, ombros - belos ombros de carne nua - e seios e barriga e pernas e pés.
Minha casca sangrenta se deixa ficar a meus pés, às avessas, toda embolada.
Apalpo meu rosto, meus lábios e vou puxando de leve a pele, começando pela nuca e subindo.
Minhas costelas aparecem, róseas e eu as empurro fortemente de volta com um estralo.
Nunca estive tão nua e tão incerta, acho.
Olho para as estrela, eternas testemunhas dos meus atos e imploro por algo, sem saber pelo quê.
Mas elas apenas piscam. No céu daqui, as estrelas são homens voando.
Homens voam. Homens podem voar.