Imagem: bevank
- Isso é mesmo necessário?
- Já falamos sobre isso, responde ele, sem parar de limpar a parte inerna do meu cotovelo com um algodão úmido de álcool.
- Você já experimentou isso? Porque eu li na internet que vicia.
- Eu estou ciente disso.
Suspiro - Ontem, eu não consegui sentir meus braços.
- É normal. E é temporário. Você mesma disse que preferia ficar plenamente consciente.
- Você percebe que está me perguntando se eu prefiro ter morte cerebral ou paralisia total, certo?
- Uma vez por semana.
-Por quanto tempo?
- Eu só quero o melhor pra você.
A agulha entrou na minha veia e eu me deitei, devagar, morrendo minha morte temporaria.
Ele fechou meus olhos já turvos e me colocou na máscara.
Cada parte do meu corpo pareceu acender e desligar.
Acordei pra dentro.
12x08 Last Tuesday Night
Postado por
garota solteira procura,
Marcadores:
HIPER DELAYED,
jumpers,
Mychael Dana e Rob Simonsen
12x07 Garota interrompida
Postado por
garota solteira procura,
Imagem: Primeroz
Dezembro de 2009.
Fiquei focalizando um ponto marrom no teto branco do quarto: um respingo de feijão. Me lembrava vagamente de como ele havia ido parar ali, mas era irrelevante.
"Senão quer falar comigo, precisa ao menos comer", disse 'House', segurando uma bandeja.
Em resposta, lhe estendi meus braços, "bote logo as agulhas".
Mas aí ele já estava cansado de colocá-las e me ver arrancá-las sem cuidado, cansado dos vômitos, das dores de estômago, diarréia.
Nas poucas horas em que ficava acordada, tremia de febre e dor, o pé infeccionado.
Visitas, só de Larissa "Dizem que você está possída". E eu "Estou, de certa forma, geneticamente possuída. O diabo é um códon defeituoso".
House me trouxe folhas e lápis, nas quais escrevi bem grande: CHARLATÃO. Seu cabelo rareou, ele emagreceu, sua esposa o deixou - ouvi dizerem.
"Me salvar não vai salvar você", eu disse.
"Mas eu preciso tentar".
Então peguei um brócolis da bandeja e enfiei na boca. Vomitei tudo em seguida, mas foi esse o começo.
Dezembro de 2009.
Fiquei focalizando um ponto marrom no teto branco do quarto: um respingo de feijão. Me lembrava vagamente de como ele havia ido parar ali, mas era irrelevante.
"Senão quer falar comigo, precisa ao menos comer", disse 'House', segurando uma bandeja.
Em resposta, lhe estendi meus braços, "bote logo as agulhas".
Mas aí ele já estava cansado de colocá-las e me ver arrancá-las sem cuidado, cansado dos vômitos, das dores de estômago, diarréia.
Nas poucas horas em que ficava acordada, tremia de febre e dor, o pé infeccionado.
Visitas, só de Larissa "Dizem que você está possída". E eu "Estou, de certa forma, geneticamente possuída. O diabo é um códon defeituoso".
House me trouxe folhas e lápis, nas quais escrevi bem grande: CHARLATÃO. Seu cabelo rareou, ele emagreceu, sua esposa o deixou - ouvi dizerem.
"Me salvar não vai salvar você", eu disse.
"Mas eu preciso tentar".
Então peguei um brócolis da bandeja e enfiei na boca. Vomitei tudo em seguida, mas foi esse o começo.
12x06 Wannabe
Postado por
garota solteira procura,
Imagem: Sifu Renka
- Eu odeio você.
Ele se faz de surdo, checa meu pulso.
- Eu odeio você.
Estou sendo sincesa, eu o deio. Não sei quando começou, uma raiva imensa, substituindo o desprezo de antes.
Agora, encho a boca pra dizer, arregalo os olhos e projeto meu corpo pra frente:
- Eu odeio você - sem gritar, fácil feito um desabafo.
Ele observa minhas pupilas, muito próximo.
- Eu odeio você.
Ele franze a testa, pega um algodão na bandeja e passa pela minha gengiva purulenta.
- Ligéia? - pergunta.
Não respondo, mas acho que ele está meio certo; Ligéia, diabetes escorbuto, é mesmo humanamente impossível eu estar viva no meio de tanto pus e catarro.
- Eu odeio v---
- Não, não odeia. Você SE odeia porque não consegue dar conta sem mim. Se conseguisse, não estaria aqui.
E é verdade. Eu quero ser ele, eu quero ser tão otimista quanto ele, saber tanto quanto ele sabe sobre mim. Eu tentei sozinha e olha só pra mim agora.
- Não é Ligéia. Eu estou ---
- O quê?
Suspiro. Não é isso o que eu quero?
- É melhor você se sentar, doutor. Vou te dizer exatamente porque você não consegue me curar...
- Eu odeio você.
Ele se faz de surdo, checa meu pulso.
- Eu odeio você.
Estou sendo sincesa, eu o deio. Não sei quando começou, uma raiva imensa, substituindo o desprezo de antes.
Agora, encho a boca pra dizer, arregalo os olhos e projeto meu corpo pra frente:
- Eu odeio você - sem gritar, fácil feito um desabafo.
Ele observa minhas pupilas, muito próximo.
- Eu odeio você.
Ele franze a testa, pega um algodão na bandeja e passa pela minha gengiva purulenta.
- Ligéia? - pergunta.
Não respondo, mas acho que ele está meio certo; Ligéia, diabetes escorbuto, é mesmo humanamente impossível eu estar viva no meio de tanto pus e catarro.
- Eu odeio v---
- Não, não odeia. Você SE odeia porque não consegue dar conta sem mim. Se conseguisse, não estaria aqui.
E é verdade. Eu quero ser ele, eu quero ser tão otimista quanto ele, saber tanto quanto ele sabe sobre mim. Eu tentei sozinha e olha só pra mim agora.
- Não é Ligéia. Eu estou ---
- O quê?
Suspiro. Não é isso o que eu quero?
- É melhor você se sentar, doutor. Vou te dizer exatamente porque você não consegue me curar...
Early cuts: Tent by the sea
Postado por
garota solteira procura,
Imagem: Coffeelatte
Ele demorou, naquela noite. Disse que tinha algo a fazer e saiu, deixando-me faminta dele.
A sombra lá fora indicava que eu estava sendo cuidada e observá-la me deixou triste e zangada: me acreditava presa por minha própria vontade, não pela dele.
Deitei sob as peles grossas e tentei dormir, ignorando o cheiro de sal e poeira.
Meu estômago grunhiu alto, sobressaltando meu cuidador, que espreitou, segurando uma tocha. "Sinto fome", eu disse. Ele arregalou os olhos. "Por favor". Então, ele desapareceu por trás dos panos, levando a luz pra longe, cada vez mais longe. Fiquei esperando, no escuro, acostumando meus olhos às poucas formas visíveis à luz da lua.
A luz voltou, depressa. Ele empurrou para dentro da tenda vinho, pão, carne e frutas suficientes para 3 pessoas. "É tudo o que temos", disse. Algo na voz dele me fez sentir pequena e inútil, logo eu.
Na ânsia de conseguir o respeito que achava que me era devido, saí da tenda carregando a bandeja e me sentei perto dele. "Pois é o suficiente pra nós dois. Sei que não comeu nada desde que ele saiu".
Ele não disse nada, mas pegou um pedaço de pão e se pôs a comer, olhando para o horizonte como se eu não existisse.
Eu já sabia aquele horizonte de cor, embora agora estivesse atulhado de barcos imponentes e homens, então me pus a estudá-lo.
Eu já o havia visto várias vezes, pela fresta na tenta, ouvira suas risadas e suas ordens. Falava como homem, mas era uma criança ainda, feito eu.
Ouvi dizer que eram parentes, quase irmãos. Realmente se pareciam. Só que os olhos desse eram mais vivos, sua pele tinha mais viço, seus cabelos eram tão brilhantes quanto os cabelos do Sol nos meus sonhos.
Fiquei observando suas roupas, suas sandálias e, quando voltei a olhar seu rosto, percebi que ele também estivera me observando e fiquei embaraçada. Ele franziu a testa e voltou a olhar o horizonte, em silêncio.
"Sente falta de casa?", eu perguntei.
"Um pouco. E você?"
Abri a boca pra dizer que estava em casa, mas não era verdade. "Um pouco".
Comemos em silêncio por mais alguns minutos que pareceram uma eternidade, até que resolvi fazer a pergunta que tanto queria.
"Por que você age como se não gostasse de mim? Eu te fiz alguma coisa?"
Ele me olhou nos olhos, coisa que raramente faziam, mesmo quando meu nome significava alguma coisa.
"Ele quer voltar por sua causa, quer deixar isso tudo. Eu não sei o que você disse ou fez, mas está arruinando tudo pelo que lutamos"
"Se você nunca amou alguém, nunca vai compreender", eu disse.
Comecei a me levantar e ele segurou meu pulso. "Mostre-me", pediu.
Eu pretendia dizer a ele que não era tão simples, mas não pude. Ambos tremíamos de frio; a brisa marinha levantava nossos cabelos e fazia a chama da tocha bruxulear, tornando a atmosfera algo mística.
Livrei eu pulso de seu aperto, gentilmente, e coloquei sua mão na areia. Aproximei meu rosto do dele e pude sentir o vinho no seu hálito. Nenhum detalhe do seu rosto me passou despercebido, nenhum pigmento nos seus olhos ou a areia grudada em sua testa. Ficamos segundos assim, parados, enquanto o vento assobiava à nossa volta. Minha mão encontrou uma abertura em sua túnica e ousou tocas seu peito frio, onde o coração batia, tresloucado.
"É assim o início, é assim o tempo todo". Então me afastei e fiquei olhando para o regaço da minha túnica rasgada.
Ele tocou meu ombro "Mostre-me o que acontece depois"
Eu quis correr pra dentro da tenda e me esconder, mas minhas pernas estavam bambas e eu não conseguia me controlar. Sua mão encontrou a minha e a apertou, como quem diz "Estou com medo, também".
Antes que pudesse dizer algo, ele chegou, vindo dos barcos.Nossas mãos se soltaram na hora.
Ele parecia cansado, vinha sério, mas sorriu ao nos ver. Aprovou nosso arranjo para o jantar e me ajudou a ficar de pé.
Os dois trocaram informações rápidas sobre a costa. Ele se despediu e entramos na tenda, onde ele tirou sua armadura enquanto eu soltava meus cabelos e me despia.
Mas, diferente das outras noites, ele me beijou antes de se deitar. Seu beijo era seco, duro e firme, mas amável em essência; eu me senti leve e pacífica, sorri. Ele franziu a testa e tocou meu peito, onde me coração batia na cadência habitual.
Me olhou, ferido, como eu nunca havia sido olhada, e eu quis dizer algo, mas não havia nada a ser dito.
Ele demorou, naquela noite. Disse que tinha algo a fazer e saiu, deixando-me faminta dele.
A sombra lá fora indicava que eu estava sendo cuidada e observá-la me deixou triste e zangada: me acreditava presa por minha própria vontade, não pela dele.
Deitei sob as peles grossas e tentei dormir, ignorando o cheiro de sal e poeira.
Meu estômago grunhiu alto, sobressaltando meu cuidador, que espreitou, segurando uma tocha. "Sinto fome", eu disse. Ele arregalou os olhos. "Por favor". Então, ele desapareceu por trás dos panos, levando a luz pra longe, cada vez mais longe. Fiquei esperando, no escuro, acostumando meus olhos às poucas formas visíveis à luz da lua.
A luz voltou, depressa. Ele empurrou para dentro da tenda vinho, pão, carne e frutas suficientes para 3 pessoas. "É tudo o que temos", disse. Algo na voz dele me fez sentir pequena e inútil, logo eu.
Na ânsia de conseguir o respeito que achava que me era devido, saí da tenda carregando a bandeja e me sentei perto dele. "Pois é o suficiente pra nós dois. Sei que não comeu nada desde que ele saiu".
Ele não disse nada, mas pegou um pedaço de pão e se pôs a comer, olhando para o horizonte como se eu não existisse.
Eu já sabia aquele horizonte de cor, embora agora estivesse atulhado de barcos imponentes e homens, então me pus a estudá-lo.
Eu já o havia visto várias vezes, pela fresta na tenta, ouvira suas risadas e suas ordens. Falava como homem, mas era uma criança ainda, feito eu.
Ouvi dizer que eram parentes, quase irmãos. Realmente se pareciam. Só que os olhos desse eram mais vivos, sua pele tinha mais viço, seus cabelos eram tão brilhantes quanto os cabelos do Sol nos meus sonhos.
Fiquei observando suas roupas, suas sandálias e, quando voltei a olhar seu rosto, percebi que ele também estivera me observando e fiquei embaraçada. Ele franziu a testa e voltou a olhar o horizonte, em silêncio.
"Sente falta de casa?", eu perguntei.
"Um pouco. E você?"
Abri a boca pra dizer que estava em casa, mas não era verdade. "Um pouco".
Comemos em silêncio por mais alguns minutos que pareceram uma eternidade, até que resolvi fazer a pergunta que tanto queria.
"Por que você age como se não gostasse de mim? Eu te fiz alguma coisa?"
Ele me olhou nos olhos, coisa que raramente faziam, mesmo quando meu nome significava alguma coisa.
"Ele quer voltar por sua causa, quer deixar isso tudo. Eu não sei o que você disse ou fez, mas está arruinando tudo pelo que lutamos"
"Se você nunca amou alguém, nunca vai compreender", eu disse.
Comecei a me levantar e ele segurou meu pulso. "Mostre-me", pediu.
Eu pretendia dizer a ele que não era tão simples, mas não pude. Ambos tremíamos de frio; a brisa marinha levantava nossos cabelos e fazia a chama da tocha bruxulear, tornando a atmosfera algo mística.
Livrei eu pulso de seu aperto, gentilmente, e coloquei sua mão na areia. Aproximei meu rosto do dele e pude sentir o vinho no seu hálito. Nenhum detalhe do seu rosto me passou despercebido, nenhum pigmento nos seus olhos ou a areia grudada em sua testa. Ficamos segundos assim, parados, enquanto o vento assobiava à nossa volta. Minha mão encontrou uma abertura em sua túnica e ousou tocas seu peito frio, onde o coração batia, tresloucado.
"É assim o início, é assim o tempo todo". Então me afastei e fiquei olhando para o regaço da minha túnica rasgada.
Ele tocou meu ombro "Mostre-me o que acontece depois"
Eu quis correr pra dentro da tenda e me esconder, mas minhas pernas estavam bambas e eu não conseguia me controlar. Sua mão encontrou a minha e a apertou, como quem diz "Estou com medo, também".
Antes que pudesse dizer algo, ele chegou, vindo dos barcos.Nossas mãos se soltaram na hora.
Ele parecia cansado, vinha sério, mas sorriu ao nos ver. Aprovou nosso arranjo para o jantar e me ajudou a ficar de pé.
Os dois trocaram informações rápidas sobre a costa. Ele se despediu e entramos na tenda, onde ele tirou sua armadura enquanto eu soltava meus cabelos e me despia.
Mas, diferente das outras noites, ele me beijou antes de se deitar. Seu beijo era seco, duro e firme, mas amável em essência; eu me senti leve e pacífica, sorri. Ele franziu a testa e tocou meu peito, onde me coração batia na cadência habitual.
Me olhou, ferido, como eu nunca havia sido olhada, e eu quis dizer algo, mas não havia nada a ser dito.
Assinar:
Postagens (Atom)