O lugar cheira a mofo e bebida barata. Eventualmente, a fumaça. As paredes riscadas, marcas do desespero pra manter certas lembranças. Asteriscos e mais asteriscos coloridos me mostram que existem muitas coisas por fazer. No chão, folhas soltas de caderno, uns poucos livros nas estantes.
No centro do quarto, como em qualquer outro desses lugares, Freud insistia, a cama. E eu a observo, sem vê-la realmente. Penso em quantas pessoas já estiveram nela comigo.
O silêncio é ensurdecedor, parece que estou em um lugar sagrado, nada se move, nada respira. Nem o som de minha própria respiração é ouvido.
Olho para o relógio e não consigo ver as horas - novidade ¬¬ -, os ponteiros se movem tão rápido que eu fico um pouco tonta.
Em um baú, livros e mais livros de todas as matérias que nunca aprendi devidamente com todas as notas que fiz mas nunca procurei reler.
Remexo nas estantes, queria rasgar tudo o que contêm, mas me arrependeria amargamente, como já me arrependi antes.
Olho para a porta, gostaria que meu carcereiro me libertasse logo, já fiquei tempo o suficiente por aqui. Mas não ouço nenhum ruído.
Olho para os fólios guardados em pastas na estante. "Será que devo...", penso. "Devo".
Leio as folhas, procurando evitar aquelas que vão me trazer sofrimento desnecessário.
Redescubro quem fui, a garota egoísta que fui, a garota altruísta que fui, me descubro nova, não sou a grande vadia que penso mas não sou a madre teresa que pensam. Sou o Papa. brincadeira, acho.
No final, um envelope. Fotos.
E sinto um frio na barriga ao lembrar, não de quem fui, mas de quem foram. Quem me fez chegar até aqui. Os abraços no dia do aniversário, os olhares sérios, as frases cômicas. Frio, frio, frio. E descubro uma sensação que me parece nova: Saudade. Mas dessa vez, sem remorso, sem querer voltar, apenas feliz por ter vivido o que vivi.
E dessa vez não me importa quem eu fui, mas quem esteve comigo enquanto eu fui.
Me levanto correndo e vou até a parte mais alta da estante, me encontrar. Encontro um livro antigo, que conta a história mais antiga de uma das garotas mais corajosas que jamais vou conhecer. E me vejo lá, como me vejo em qualquer outro lugar.
O carcereiro bate a porta, minha hora chegou.
E, fora das paredes do quarto da memória, pego um copo de água e tomo a pílula que me é destinada, abandonando por outras longas 20 horas as lembranças que o quarto encerra.
3 comentários:
vagem, se me deixar de novo sem notícias, sem entrar no msn, nunca mais fico nu na cam pra você
eu não sei o q comentar, você sabe q eu adoro o q vc escreve.
mas eu gosto mais de qdo vc escreve sobre a Jo e a Lucy, volta *__*
eu amo você
e a rach, a jo e a lucy.
pergunta, já q vc nunca entra no msn
vc vai pra sampa assistir crepúsculo comigo?
eu gosto das coisas q vc diz, elas me fazem pensar ao invez de pensar merda.
pq a cama no centro?
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