Imagem: TingTing Huang
me dá sua boca pra eu esconder dela
me dá seus olhos e tudo que já viram
me dá seus ouvidos pra eu te contar histórias
me dá suas mãos pra eu segurar
me dá seu rosto pra eu guardar na memória
me dá os seus cabelos pra eu adorar
me dá os seus dedos, com aliança ou sem, pra eu curar os cortes de papel
me dá os seus ombros pra eu encostar a boca
me dá seu pescoço com os pêlos por arrepiar com meu hálito
me dá suas pernas pra se embolarem nas minhas quando o frio chegar
me dá seus pés batendo no ritmo de uma música qualquer
entregue-se a mim, inteiro ou despedaçado.
em átomos, em cubos: mas eu só quero se for você.
17x15 Formato mínimo (ou "O corvo e a escrivaninha")
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garota solteira procura,
Imagem: TingTing Huang
O corvo: - Eu te amo. Eu te amo. Eu te amo; a boca vermelha, o gosto dela na boca, o cheiro dela, os cabelos dela, o corpo dela: ela inteira, real como nunca havia sido antes.
Havia uma chance, talvez mais de uma, oculta como suas pernas, seus seios - com os quais ele havia sonhado mais de uma vez e... "Vá devagar", pensou, mas não controlava mais seu corpo. Seu corpo era dela, finalmente. Era ela, também, uma extensão.
- Eu te amo, eu te amo, eu te amo, dizia em seus cabelos. E os cabelos nada diziam. Mas ainda havia esperança.
A escrivaninha: "Mas que fome é essa?", pensava, "essa fome é de mim?" e ele a engolia aos poucos.
Ela teve medo de se deixar devorar, teve medo de machucá-lo, se conteve.
Eu te amo, ele disse. Eu te amo, ela quis dizer. Porque ela a amava ali, ela o amava assim, um amor instantâneo e finito.
Ele queria entrar no corpo dela pela boca ela o mantinha levemente afastado, pra não magoar, pra não ter que dizer que já estava tão cheia de si que só cabia mais uma pessoa - que já tinha reservado lugar.
Não há vagas, ela piscou.
Mas ele, cego, não leu.
E ela, muda, nunca disse.
Qual é a semelhança, Jack, entre o corvo e a escrivaninha?
(Ele procurava uma princesa, ela procurava o próximo)
O corvo: - Eu te amo. Eu te amo. Eu te amo; a boca vermelha, o gosto dela na boca, o cheiro dela, os cabelos dela, o corpo dela: ela inteira, real como nunca havia sido antes.
Havia uma chance, talvez mais de uma, oculta como suas pernas, seus seios - com os quais ele havia sonhado mais de uma vez e... "Vá devagar", pensou, mas não controlava mais seu corpo. Seu corpo era dela, finalmente. Era ela, também, uma extensão.
- Eu te amo, eu te amo, eu te amo, dizia em seus cabelos. E os cabelos nada diziam. Mas ainda havia esperança.
A escrivaninha: "Mas que fome é essa?", pensava, "essa fome é de mim?" e ele a engolia aos poucos.
Ela teve medo de se deixar devorar, teve medo de machucá-lo, se conteve.
Eu te amo, ele disse. Eu te amo, ela quis dizer. Porque ela a amava ali, ela o amava assim, um amor instantâneo e finito.
Ele queria entrar no corpo dela pela boca ela o mantinha levemente afastado, pra não magoar, pra não ter que dizer que já estava tão cheia de si que só cabia mais uma pessoa - que já tinha reservado lugar.
Não há vagas, ela piscou.
Mas ele, cego, não leu.
E ela, muda, nunca disse.
Qual é a semelhança, Jack, entre o corvo e a escrivaninha?
(Ele procurava uma princesa, ela procurava o próximo)
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17x14 The Blower's daughters
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garota solteira procura,
Imagem: TingTing Huang
Sonhei com elas, de novo. Estão virando uma obssessão irritante.
"Tô grávida", eu dizia, e ele sorria. Seu sorriso me ofuscava e eu me escondia nas suas gengivas, me deitava com uma garotinha no colo: Teresa.
A Teresa de Coppola se (con)fundia com a Teresa de Kundera, eu passava a mãe nos seus cabelos louros e eles ficavam castanhos e eles ficavam castanhos; eu leria livros pra ela e diria que era linda.
Debaixo das cobertas, Maria me espreita. Parece esperta e um tanto dentuça e eu quero tocá-la, tão loira e tão morena, tão nós dois, nós quatro. "Vem cá, Maria, e me prometa que nunca vai confiar em ninguém que não exista", ela balança a cabeça. Assim, tudo vai ficar bem.
Bianca pede licença pra entrar, porque é feita de educação pura. Por favor, obrigada, com licença, sua cara rosada é sempre uma interrogação sutil. O rosto dela é o meu, feito uma tabula rasa em que desenharam os seus traços. Exceto os olhos - como em Harry Potter, puxaram os meus.
E lá vem ela, como se uma pessoa tivesse te arrancado os olhos e os cabelos e os estivesse usando. E os teus joelhos, e a tua pele, e a tua respiração.
- Deixa soltos os cabelos, Luz, assim.
Passo mal, sinto dores: dou à luz Cecília, os olhos tão claros que parecem cegos, buscando uma revelação.
Não é um nome, é um fardo, Cecília. Ela não fecha os olhos, nunca dorme, nunca chora.
"Está morta. Temos que enterrá-la", eles dizem.
Digo que não," como pode estar morta se ela come, se ela respira?"
E eles: "O corpo tem vida, a alma não. A luz se apagou"
Digo ela está viva, viva, não deixo.
E você vem e me toma a pequena Cecília, dizendo: "Acabou"
Acordei com a boca seca, Brasília me sugando e você perdido.
Acabou, mas
acho que, comigo, as coisas nunca têm fim.
Sonhei com elas, de novo. Estão virando uma obssessão irritante.
"Tô grávida", eu dizia, e ele sorria. Seu sorriso me ofuscava e eu me escondia nas suas gengivas, me deitava com uma garotinha no colo: Teresa.
A Teresa de Coppola se (con)fundia com a Teresa de Kundera, eu passava a mãe nos seus cabelos louros e eles ficavam castanhos e eles ficavam castanhos; eu leria livros pra ela e diria que era linda.
Debaixo das cobertas, Maria me espreita. Parece esperta e um tanto dentuça e eu quero tocá-la, tão loira e tão morena, tão nós dois, nós quatro. "Vem cá, Maria, e me prometa que nunca vai confiar em ninguém que não exista", ela balança a cabeça. Assim, tudo vai ficar bem.
Bianca pede licença pra entrar, porque é feita de educação pura. Por favor, obrigada, com licença, sua cara rosada é sempre uma interrogação sutil. O rosto dela é o meu, feito uma tabula rasa em que desenharam os seus traços. Exceto os olhos - como em Harry Potter, puxaram os meus.
E lá vem ela, como se uma pessoa tivesse te arrancado os olhos e os cabelos e os estivesse usando. E os teus joelhos, e a tua pele, e a tua respiração.
- Deixa soltos os cabelos, Luz, assim.
Passo mal, sinto dores: dou à luz Cecília, os olhos tão claros que parecem cegos, buscando uma revelação.
Não é um nome, é um fardo, Cecília. Ela não fecha os olhos, nunca dorme, nunca chora.
"Está morta. Temos que enterrá-la", eles dizem.
Digo que não," como pode estar morta se ela come, se ela respira?"
E eles: "O corpo tem vida, a alma não. A luz se apagou"
Digo ela está viva, viva, não deixo.
E você vem e me toma a pequena Cecília, dizendo: "Acabou"
Acordei com a boca seca, Brasília me sugando e você perdido.
Acabou, mas
acho que, comigo, as coisas nunca têm fim.
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