Imagem: TingTing Huang
Sonhei com elas, de novo. Estão virando uma obssessão irritante.
"Tô grávida", eu dizia, e ele sorria. Seu sorriso me ofuscava e eu me escondia nas suas gengivas, me deitava com uma garotinha no colo: Teresa.
A Teresa de Coppola se (con)fundia com a Teresa de Kundera, eu passava a mãe nos seus cabelos louros e eles ficavam castanhos e eles ficavam castanhos; eu leria livros pra ela e diria que era linda.
Debaixo das cobertas, Maria me espreita. Parece esperta e um tanto dentuça e eu quero tocá-la, tão loira e tão morena, tão nós dois, nós quatro. "Vem cá, Maria, e me prometa que nunca vai confiar em ninguém que não exista", ela balança a cabeça. Assim, tudo vai ficar bem.
Bianca pede licença pra entrar, porque é feita de educação pura. Por favor, obrigada, com licença, sua cara rosada é sempre uma interrogação sutil. O rosto dela é o meu, feito uma tabula rasa em que desenharam os seus traços. Exceto os olhos - como em Harry Potter, puxaram os meus.
E lá vem ela, como se uma pessoa tivesse te arrancado os olhos e os cabelos e os estivesse usando. E os teus joelhos, e a tua pele, e a tua respiração.
- Deixa soltos os cabelos, Luz, assim.
Passo mal, sinto dores: dou à luz Cecília, os olhos tão claros que parecem cegos, buscando uma revelação.
Não é um nome, é um fardo, Cecília. Ela não fecha os olhos, nunca dorme, nunca chora.
"Está morta. Temos que enterrá-la", eles dizem.
Digo que não," como pode estar morta se ela come, se ela respira?"
E eles: "O corpo tem vida, a alma não. A luz se apagou"
Digo ela está viva, viva, não deixo.
E você vem e me toma a pequena Cecília, dizendo: "Acabou"
Acordei com a boca seca, Brasília me sugando e você perdido.
Acabou, mas
acho que, comigo, as coisas nunca têm fim.
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