Imagem: TingTing Huang
O que acontece se você não pega um livro? E se você não diz ou pra alguém?
E se eu decido pular um degrau nas escadas? E se a minha boca encostasse na sua, se eu te dissesse "oi"?
E se eu não calçasse estes tênis, se todas as novelas acabassem, se Pedro não colocasse os hidrogênios nas minhas cadeias carbônicas?
E se Augusto não tivesse tocado minha mão?
Se você, Otto, tivesse me olhado mais intensamente, se eu não tivesse assistido "Boys over flowers" ou escutado o que Guilherme tinha a dizer ou acatado ordens ou assistido "Balto" ou olhado para o céu e chamado Evangeline ou pedido para Ele ou tomado vacina ou lido "O Perfume" ou se Mikhail estivesse vivo ou se tivesse ligado para Jack...
Eu estaria aqui?
Ainda bem que não fiz nada disso.
(Adivinhem quem vai, talvez, ser médica agora? FUCK YEAH)
18x10 The old ones
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garota solteira procura,
Imagem: TingTing Huang
"O que você vai ser quando você crescer?"
Queria poder voltar no tempo.
Ouvir uma mãe de família tocar violão usando óculos escuros numa boate duvidosa.
Observar um homem sério e calado estudando a noite inteira pra um teste.
Conhecer o velho senhor de coração mole que teve que ser duro um dia.
Entreouvir a conversa entre duas amigas, envoltas numa nuvem de fumaça de cigarro.
Queria me sentar no chão e assistir enquanto um veterano amarra juntos dois calouros que vão se casar e viver juntos pra sempre.
Queria conhecer uma mulher fera antes que ela se tornasse fera.
Espiar os gestos e as juras de amor de um casal que não durou pra sempre.
Rir de uma garota pequena daquele tipo que é amiga de todo mundo, mas que não é só isso.
Olhar as garotas bonitas que não se davam conta de que nunca mais seriam tão belas.
Conhecer uma garota presa em si mesma, que sonhava em ser uma mulher livre.
Queria conhecer muita gente de antes, observá-los de longe.
Quem sabe, talvez, assistir ao momento em que um cara magro e popular se interessou por uns cabelos encaracolados.
Só pra descobrir que, mesmo tendo passado todos esses anos, ninguém mudou nada.
Talvez eu nem precise voltar no tempo. Eles ainda estão aqui.
"O que você vai ser quando você crescer?"
Queria poder voltar no tempo.
Ouvir uma mãe de família tocar violão usando óculos escuros numa boate duvidosa.
Observar um homem sério e calado estudando a noite inteira pra um teste.
Conhecer o velho senhor de coração mole que teve que ser duro um dia.
Entreouvir a conversa entre duas amigas, envoltas numa nuvem de fumaça de cigarro.
Queria me sentar no chão e assistir enquanto um veterano amarra juntos dois calouros que vão se casar e viver juntos pra sempre.
Queria conhecer uma mulher fera antes que ela se tornasse fera.
Espiar os gestos e as juras de amor de um casal que não durou pra sempre.
Rir de uma garota pequena daquele tipo que é amiga de todo mundo, mas que não é só isso.
Olhar as garotas bonitas que não se davam conta de que nunca mais seriam tão belas.
Conhecer uma garota presa em si mesma, que sonhava em ser uma mulher livre.
Queria conhecer muita gente de antes, observá-los de longe.
Quem sabe, talvez, assistir ao momento em que um cara magro e popular se interessou por uns cabelos encaracolados.
Só pra descobrir que, mesmo tendo passado todos esses anos, ninguém mudou nada.
Talvez eu nem precise voltar no tempo. Eles ainda estão aqui.
18x09 Hometown Glory
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garota solteira procura,
Imagem: Ting Ting Huang
(Já faz um tempo e parte das sensações se perderam no redemoinho de fatos e luzes dos últimos dias)
"Não sou daqui. Não pertenço", resisti enquanto pude às luzes, aos risos.
Mas eu sou parte das ruas estreitas, parte da terra seca e do asfalto quente.
Nasci num terreno baldio no centro e cresci no pavimento e no chão encerado, respirando formol e cloro. Minha mãe, um vulto branco. Meu pai, um fantasma. Fui levada na calada da noite: pais novos, cidade nova.
Mas nunca saiu de mim o calor e o cheiro e a vontade de ser um vulto. Nunca saiu de mim o gosto do sorvete, dos livros, do calçamento, do lanche engolido às pressas, da música alta nos bares.
Vou de passagem, a cidade não me chama nem eu imploro por ela.
Só nos olhamos, medimos, nos aprovamos.
(Já faz um tempo e parte das sensações se perderam no redemoinho de fatos e luzes dos últimos dias)
"Não sou daqui. Não pertenço", resisti enquanto pude às luzes, aos risos.
Mas eu sou parte das ruas estreitas, parte da terra seca e do asfalto quente.
Nasci num terreno baldio no centro e cresci no pavimento e no chão encerado, respirando formol e cloro. Minha mãe, um vulto branco. Meu pai, um fantasma. Fui levada na calada da noite: pais novos, cidade nova.
Mas nunca saiu de mim o calor e o cheiro e a vontade de ser um vulto. Nunca saiu de mim o gosto do sorvete, dos livros, do calçamento, do lanche engolido às pressas, da música alta nos bares.
Vou de passagem, a cidade não me chama nem eu imploro por ela.
Só nos olhamos, medimos, nos aprovamos.
18x08 Without a trace
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garota solteira procura,
Imagem: Ting Ting Huang
Ouvi dizer que as pessoas só devem ficar em nossas vidas enquanto são necessárias. Mais que isso seria tolice, desperdício.
Foi assim com Otto. Ele esteve por aí me dizendo, com aqueles olhões, que era hora de crescer.
Ele me disse, batendo as mãos umas nas outras, que eu tinha que estudar.
Me ensinou a ser paciente enquanto esperávamos nossos ônibus no ponto.
Ele me disse que eu precisava me gostar mais, me mostrou coisas dentro da minha cabeça que eu nunca teria visto sozinha.
Ainda tem tanta coisa que eu tenho que aprender, coisas que eu queria que ele me ensinasse.
Mas ele não pode, ou ainda não pode.
Obrigada, Otto. Por todos esses dias e por todos esses gestos e olhares e por não cortar os cabelos nem se demitir antes que eu pudesse, finalmente, andar com meus próprios pés.
Tenha uma boa vida. Por favor.
Ouvi dizer que as pessoas só devem ficar em nossas vidas enquanto são necessárias. Mais que isso seria tolice, desperdício.
Foi assim com Otto. Ele esteve por aí me dizendo, com aqueles olhões, que era hora de crescer.
Ele me disse, batendo as mãos umas nas outras, que eu tinha que estudar.
Me ensinou a ser paciente enquanto esperávamos nossos ônibus no ponto.
Ele me disse que eu precisava me gostar mais, me mostrou coisas dentro da minha cabeça que eu nunca teria visto sozinha.
Ainda tem tanta coisa que eu tenho que aprender, coisas que eu queria que ele me ensinasse.
Mas ele não pode, ou ainda não pode.
Obrigada, Otto. Por todos esses dias e por todos esses gestos e olhares e por não cortar os cabelos nem se demitir antes que eu pudesse, finalmente, andar com meus próprios pés.
Tenha uma boa vida. Por favor.
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Otto de quem fui,
pra variar,
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