Imagem: TingTing Huang
Sai de casa, pega um ônibus, isento de culpa. A culpa é de quem fez seus cabelos, a culpa é de quem me fez atrasada, preguiçosa.
A culpa é de um cara que você nunca viu, de uma menina, do Green Day.
Aí você vive os seus dias em completa ignorância, sem nunca se dar conta de que alguém ama você de que alguém amou você, sonhou e escreveu sobre você.
Saem de casa pela manhã, sempre juntos. A culpa é do pai, da cidade, do mistério, da vontade de alguém.
E as vidas vão se entrelaçando, se alinhando.
Aí eu entro, desarrumo, desamarro, levando Otto amarrado à minha vida.
A culpa é do próprio Otto, que some e reaparece quando quer. A culpa é minha e do sangue que me corre nas veias, da necessidade patológica de romance, da parte que me cabe representar.
A culpa é de Shakespeare, J.D. Salinger, da televisão, de Hollywood. Da Meg Ryan, do Tom Hanks.
Não é minha, Lena.
A culpa é da vida, do Renato russo, Juscelino Kubitschek, que nos amarraram juntos.
Tô tentando desafazer os nós e ficar livre, Lena, mas não tem pra onde ir: a mãe disse que algo aconteceria quando houvesse liberdade.
Se eu ficar, é ruim.
Se eu for, é ainda pior.
23x10 Where the lives overlap
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