25x06 The Reminder

Um dia de compras com ela. Um dos poucos dias que tivemos que eu não estraguei.
Yossef. Vê-lo de novo. Passar algumas horas com ele.
Os dentes de Beatriz. Pequenos e afastados, o cheiro de suor da cabeça dela, algo na cor das pernas rechonchudas dela e na voz infantil.
Jim vestindo minha calça de pijama de corações.
Babel.
The only exception tocando no Baile de inverno.
Luzes de Coppolla.
Uma poesia pouco familiar de uma revista que talvez se chame Piauí.
Arqui inimigos que respeitam um ao outro e votos inesperados.
Assembleias terríveis.
Viagens.
E retornos. Macacões floridos e Not your mother's, cartões postais e chocolates. Cães e carros.
Sucrilhos e paçoca.
Anatomia do amor.
Festas juninas, pactos de sangue e velhos amigos.
A banda mais bonita da cidade.
Alguns áudios e dormir muito no sofá.
Hardest of hearts.
ECEM, ameixas, colchões alheios.
Flores, amigas e um blur de coisas que eu gostaria de lembrar. Que eu nunca lembro.
Livros de Anatomia, livros de semiologia e pedidos de namoro.
Copa do mundo, macarrão, vocativos inéditos e melhores amigos.
Arctic Monkeys.
A muy grandiosa e obscura família R. e GB.
Natal, crush, direteam
Muita briga.
Consoantes sussurradas, pizza, conversas estranhas e declarações esperadas e inesperadas, ao mesmo tempo.
Muita vontade.
Pouco tempo.
Burn, da Ellie Goulding.
E uma mistura exótica de Tomboy e A culpa é das estrelas.
Bolo de churros.
E garotas vestidas de Tardis.
Tropicália.
E crianças.
Defcon- 4.
Otto.
Piercings.
Dias de compras.
Promessas não cumpridas.
Almoços que não aconteceram.
Jantares inesperados.
Frango xadrez.

25x05 Pégaso e Belerofonte

Imagem: TingTing Huang

"Achava que amor era quando você queria muito um balão. Saía de casa pra comprar e os sinais estavam abertos. E, quando você chegava na loja, finalmente, só tinha um balão, justamente aquele que você queria. Você voltava pra casa, feliz da vida. E o balão só murchava uns dias depois, quando a vontade de balão já tivesse passado.
Amor é quando você sai de casa sem ter certeza se compra um balão ou não. Chega correndo do outro lado da rua no segundo em que o sinal fecha e se pergunta se isso quer dizer que você deve voltar pra casa e ler um livro. Você chega na loja e tem um zilhão de balões e você não sabe qual escolher, se vale mesmo a pena. Você compra e volta pra casa se perguntando se era isso. O balão murcha durante a noite e, quando você acorda, disposta a se divertir com ele, bom...
Mas não é ruim. É real, Pégaso.", disse Belerofonte, " preciso que você entenda que eu percebi agora que não é como eu pensava. E isso não é ruim. É que eu não consigo te explicar direito, não sou bom descrevendo coisas. Mas tem o fato de que você procura um sinal simples e qualquer só pra se justificar, sem saber que você quer aquele balão mais do que tudo. Tem a maneira como seu estômago se revira quando você escolhe o balão mais legal, tem aquele segurar do balão contra o vento, o medo de vê-lo indo embora, aquela preocupação - e se ele estoura? - e você corre e as luzes de Coppola iluminam o balão e você sabe que valeu a pena, que não importa quanto tempo ele vai durar. E mesmo quando você tem aquela sensação de que o ar está escapando dele aos poucos, aquela dor, aquela dúvida - tentar impedir que o ar saia ou aproveitar o máximo possível -, você sabe que a vinda até em casa valeu a pena. Sabe, sem saber, que ele vai murchar e que vai ser tão triste, todas as brincadeiras perdidas, mas nem pensa nisso, nem se preocupa."

- Acho que é mais ou menos assim. Ou achava, um minuto atrás. Agora já acho outra coisa. Não sei não, Pégaso, acho que, quanto mais tento te explicar o que sinto, menos entendo disso. Vai voar, vai.

25x04 The Switch

Imagem : TingTing Huang

Cara Ulrika, 
eu quero te fazer perguntas. Um só, na verdade. 
Eu tô cansada, maquiagem escorrendo pelos olhos, alma escorrendo pelos dedos. Em algum lugar, em algum momento, ontem ou hoje, estou dançando feito louca, feito uma possuída, tentando me livrar de todo esse peso, de todo esse medo. 
Em algum lugar, eu ainda estou cansada, ofegante, mas não paro de dançar. Meus pés doem, mas eu não me sento. Eu danço de olhos fechados no meio de um monte de gente. 
Eu não sei dançar, você sabe. 
Mas não existe saber dançar, você me disse isso. Existe dançar pros outros. Existe dançar pra mim. 
Danço pra mim mesma, giro e pulo, não sinto vergonha, eu só quero ficar cansada e dormir ali mesmo, no chão sujo e escorregadio de terra e álcool. 
Não bebi. Dessa vez não. Eu quero sentir toda a dor, todo o som, quero ver as luzes e as pessoas. Tudo nítido, tudo como deve ser. 
Eu não sei que dia é hoje, que hora é hoje, que dia é agora. Eu não preciso saber. 
Uma garota, eu não consigo me lembrar de onde a conheço, me diz algo e eu não entendo. Mas ela se parece com você. Todas as garotas do mundo se parecem com você, menos eu. 
Andei tentando te substituir, como você previa. Andei machucando gente que só precisava da minha amizade. Andei guardando segredos. E abandonando as pessoas quando achava que não podia mais ficar calada. 
Tá ficando pesado demais. 
Eu tô crescendo, mas o peso cresce junto. 
Por isso eu danço. Pra mim, em um lugar onde ninguém me conhece, cheio de gente que não me interessa. 
Eu preciso me desligar disso, me desligar de tudo, como você me ensinou, como fazíamos. 
Sentir o básico, o crucial. 
Talvez eu jogue fora esse guardanapo, talvez te envie, junto com os milhares de outros. Eu só precisava que você, de todas as pessoas, soubesse: estou voltando, aceitando as coisas como são, como devem ser. 
Estou desistindo de lutar.
E é por isso que estou te escrevendo isso, mesmo sabendo que você nunca vai ler, porque sabíamos que esse dia chegaria, que, um dia, eu teria a coragem de perguntar, sem ter medo de que você responda:

Onde você está?