25x04 The Switch

Imagem : TingTing Huang

Cara Ulrika, 
eu quero te fazer perguntas. Um só, na verdade. 
Eu tô cansada, maquiagem escorrendo pelos olhos, alma escorrendo pelos dedos. Em algum lugar, em algum momento, ontem ou hoje, estou dançando feito louca, feito uma possuída, tentando me livrar de todo esse peso, de todo esse medo. 
Em algum lugar, eu ainda estou cansada, ofegante, mas não paro de dançar. Meus pés doem, mas eu não me sento. Eu danço de olhos fechados no meio de um monte de gente. 
Eu não sei dançar, você sabe. 
Mas não existe saber dançar, você me disse isso. Existe dançar pros outros. Existe dançar pra mim. 
Danço pra mim mesma, giro e pulo, não sinto vergonha, eu só quero ficar cansada e dormir ali mesmo, no chão sujo e escorregadio de terra e álcool. 
Não bebi. Dessa vez não. Eu quero sentir toda a dor, todo o som, quero ver as luzes e as pessoas. Tudo nítido, tudo como deve ser. 
Eu não sei que dia é hoje, que hora é hoje, que dia é agora. Eu não preciso saber. 
Uma garota, eu não consigo me lembrar de onde a conheço, me diz algo e eu não entendo. Mas ela se parece com você. Todas as garotas do mundo se parecem com você, menos eu. 
Andei tentando te substituir, como você previa. Andei machucando gente que só precisava da minha amizade. Andei guardando segredos. E abandonando as pessoas quando achava que não podia mais ficar calada. 
Tá ficando pesado demais. 
Eu tô crescendo, mas o peso cresce junto. 
Por isso eu danço. Pra mim, em um lugar onde ninguém me conhece, cheio de gente que não me interessa. 
Eu preciso me desligar disso, me desligar de tudo, como você me ensinou, como fazíamos. 
Sentir o básico, o crucial. 
Talvez eu jogue fora esse guardanapo, talvez te envie, junto com os milhares de outros. Eu só precisava que você, de todas as pessoas, soubesse: estou voltando, aceitando as coisas como são, como devem ser. 
Estou desistindo de lutar.
E é por isso que estou te escrevendo isso, mesmo sabendo que você nunca vai ler, porque sabíamos que esse dia chegaria, que, um dia, eu teria a coragem de perguntar, sem ter medo de que você responda:

Onde você está?

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