40x20 Flores da estação (Season finale)

Imagem: TingTing Huang

Era uma vez um livro sobre o tempo.
Em algum lugar, existe tempo pra tudo.

Tempo pra aceitar mudanças, tempo pra dormir, pra assistir seriados.
Tempo pra comer.
E pra cozinhar o que se come.

Existe tempo pra irmãs.
E tempo pra amigos.
Tempo pra fazer as pazes,
tempo pra dizer verdades.

Existe tempo pra ler os livros empilhados nas estantes.
E pra arrumar o quarto.
Tempo pra assistir as séries na ordem alfabética, e pra sair da ordem.

Existe tempo pra aprender sobre pancreatite.
E pra aprender sobre psicofármacos.

Existe tempo pra escrever artigos,
histórias,
posts,
projetos.

E tempo pra tomar sorvete.
Tempo pra esperar que você diga que gosta de mim,
tempo pra decidir se eu gosto de você.
Tempo pra me apaixonar,
e desapaixonar.
Pra beijar sua boca,
pra beijar outras bocas.

Existe tempo pra segurar sua mão.
Existe tempo pra ficar com frio do seu lado,
e pra me consertar o bastante pra ficarmos juntos.
Existe tempo pra que eu me torne a pessoa que você quer que eu seja.
Existe tempo pra que você perceba que gosta de mim sem que eu precise mudar nada.

E existe tempo pra que eu me apaixone por gente que já sabe que eu não preciso mudar,
por gente que gosta de quem eu sou.

Existe tempo pra dançar,
pro calor,
e pra se afastar de quem quer cometer erros.

Existe tempo pra entender melhor
pra cometer erros
pra perdoar erros,
pra não perdoar erros.

Tempo pra terminar e não querer mais saber de amor,
tempo pra só querer saber de amor.
Tempo pra querer você o tempo inteiro,
tempo pra odiar sua existência.

Existe tempo pra conhecer seu rosto, seu corpo
suas mãos
E tempo pra te dizer que não quero mais,
ou que nunca quis.

Tempo de te puxar e beijar sua boca com toda a força de todos os sentimentos guardados desde sempre,
e tempo de perceber que não é bem isso o que eu queria.

Tempo de me aventurar pelo mundo,
e de só querer dormir a tarde inteira do seu lado.
De ser má,
de ser boa,
de ser robô,
de ser humana.

Eu não sei que horas são.
Nem o que acontece agora.

Eu queria muito saber, queria ter a convicção,
a firmeza de caráter de alguém que sabe que é você
que é você e mais ninguém,
que vai me fazer sair de casa numa noite gelada de julho pra qualquer coisa
qualquer coisa

Mas eu penso nisso, e meu estômago aperta,
cheio de comida, borboletas e de "e se?"s, sacolejando, gelados.

Vamos ter que esperar pra ver.
Isso me cansa, é.
Mas eu não sei fazer outra coisa.

Não sei nem se existe outra coisa.

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