Imagem: TingTing Huang
Vem, ela disse.
Vem.
E a luz me afogou, o cheiro, o frio, o ar, os sons do mundo.
As mãos dela tocando meu corpo, meu rosto, meu pescoço, o cheiro do medo.
Vem,
venha e uive.
Mas eu não uivei.
Eu estava com medo.
Eu estava com medo da luz,
com medo do amor,
da chuva,
da morte.
Com medo do sangue,
da voz de Deus.
Meus pulmões tiveram medo,
e minha boca.
Tremi e meus dedos, 5 mais 5 mais 5 mais 5.
Eu tive medo de meu pai
e do abandono,
eu tive medo das crianças que nunca choram,
e das crianças que nem sequer experimentam o medo que sinto agora.
Tive medo do verde, e das cores que veria um dia.
Tive medo da minha própria vida,
de meus irmãos, da escola,
da noite escura
e do pôr-do-sol.
Da textura da grama,
pasta de dente e do cheiro do pão recém saído do forno.
Eu tive medo,
e não uivei.
E eu a senti prender a respiração e fazer uma prece,
me dizer pra ter coragem,
que a vida talvez valesse a pena,
talvez não.
Que existem dias bons,
e dias ruins.
Pessoas boas,
e pessoas ruins.
Que a gente lembra,
que a gente esquece.
Mas existem bicicletas,
e o cheiro dos livros novos,
o movimento que fazem as cortinas,
beijo na boca e que eu não precisava temer
o pulsar do meu próprio coração.
Mas eu estava tão assustado, atônito, incrédulo,
eu só queria voltar pro escuro,
e ela também.
Mas não tem volta, ela disse, não tem volta.
Nós tínhamos que ter coragem. De uivar, de conquistar o mundo inteiro, ela disse.
Então, eu uivei.
Alto, forte, pra todas as luas de todos os planetas nessa galáxia, que ouvissem, que soubessem, eu estou aqui, EU ESTOU AQUI.
Então eu disse a ela:
- Agora é sua vez. Uive.
E ela disse:
Estou com medo.
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