45x02 Katie Holmes

 

Imagem: TingTing Huang

"Pollyanna: Well, I suppose I could be glad because...
Nancy: Yes, go ahead, darling.
Pollyanna: No! It was a silly game! I hate it! I'll never want to play it again! Leave me alone!"

Você me diz que não jogo o seu jogo. Diz pra eu jogar.
Mas

Eu jogo o seu jogo pra acordar de manhã. 
Pra sair pro trabalho. 
Eu jogo o seu jogo pra conseguir andar depois de um dia de trabalho.
Jogo o seu jogo pra dirigir de volta pra casa sem dormir ao volante.
Jogo o seu jogo quando alguém morre sem que eu possa fazer nada, quando alguém morre sob as minhas mãos. 
Jogo o seu jogo quando minha irmã sai, quando eu saio, quando eu saio pra te encontrar.
Jogo o seu jogo quando falo com alguém. 
Jogo o seu jogo pra sair, e pra voltar. 
Jogo o seu jogo pra não enlouquecer. 
Mas não é o bastante,

o que você quer de mim? 

Você começa, peças brancas, movimentos fluidos, certeiros, derruba minhas peças, eu acho, porque eu não sei jogar, eu não aprendi a jogar. E você sempre soube jogar. Está em você, mas não em mim. 

Quero aprender, mas não é algo que se ensina. 
Então, como?

Minhas peças continuam caindo, sem que eu derrube nenhuma das suas, sem que você tenha que derrubar nenhuma das minhas.
"Eu não faço nada, é tudo porque você não está jogando direito", você diz, todo mundo diz. Não é você, sou eu quem derrubo minhas próprias peças, com meu jogo desajeitado. 

Eu quero parar tudo, eu quero aprender a jogar, eu quero ser melhor, quero fazer direito, de novo. Eu juro, vou fazer melhor, vou fazer direito, de novo. 

Não tem intervalo. 
Não tem trégua. 

Aprende-se enquanto se joga. 
Ou perde-se. 

É simples. 
As regras são simples, todo mundo consegue, é só querer, 

o que tem de errado com você?


- Não se preocupe. Vai dar tudo certo. No tempo certo. É só acreditar. Seja otimista. Vai ficar tudo bem. Já deu tudo certo. Pensamento positivo. Certo? 







- Certo. 

45x01 Por um triz

 

Imagem: TingTing Huang

Quase 2 anos, nem sei mais se sei como fazer isso. Mesmo assim, vou fazendo. 

E, admito, parece mesmo como andar de bicicleta. Meus dedos reconhecem as teclas, os comandos. Os sons, a sensação de estar finalmente em casa de novo. 

Olá, querido leitor. Estou aqui. 

Estou viva. 

Você está?


Tem tanto que eu quero dizer. Aconteceu tanta coisa. Eu quero explicar a razão de não ter voltado. Mas eu não tenho razão.
Por que agora? Por que hoje? 


É que hoje acordei de propósito.
E fazia muito, muito tempo, que só acordava por puro instinto. 

Hoje eu queria começar de novo. Hoje eu acreditei que realmente conseguiria se quisesse. Eu queria um ano novo, com a B. antiga, a que eu amo, respeito. Hoje eu quis encher a minha parede de cores e lembretes. 

Hoje eu queria escrever sobre Otto e Chuck. Hoje eu queria beber água e comer vegetais. Hoje eu queria fazer yoga. Hoje eu queria querer estar aqui pro ano que vem. Hoje eu queria ser quem eu não sou ainda. 

Hoje eu queria esquecer que tudo na vida é quase. Quase lá, mais um pouco. Tudo é esforço, trabalho duro. Tudo é por um triz. Tudo é na hora certa, quando você estiver pronta. Se Deus quiser. Um dia desses, quando se menos espera. 

Hoje eu queria esquecer que eu quero.
Agora. 
Pra ontem. 

Hoje eu queria fácil. Descomplicado. 
Queria sorte, do tipo que a Lindsay Lohan tinha em "Just my luck", daquele tipo de fazer parar de chover.  Usar uma calça branca que nunca se suja. 

Hoje eu queria ser a primeira opção. Ter a primeira opção. 
Hoje eu queria não aceitar menos que o melhor. 

Hoje eu queria saber o que fazer. 


Mas eu não sei. 

Por enquanto, tudo é quase. 
Tudo é por um triz. 

Por enquanto, só quero, quem sabe, 
acordar de propósito amanhã.