Imagem: TingTing Huang
Ele me perguntou se eu me lembrava.
Eu disse que sim, mas não é verdade.
Eu não me lembro.
Durmo e acordo sem entender ainda quem sou, onde estou, como cheguei aqui, pra onde vou.
Escapam entre os meus dedos os fragmentos escorregadios das memórias, e eu às vezes pesco um ou outro me vazando pelas orelhas, como se fugissem em desespero. Eu as engulo em seco, feito Cronos, e processo todas de forma distorcida e tola.
Todos os dias, ele fala.
Mas eu não sei mais responder, eu não sei falar com você, eu só sei falar o que precisam ouvir.
Penso em números ordenados em fila e nos meus sonhos aparecem apenas os rostos de desconhecidos.
Já não compreendo meus desejos, mas eu sei que existem, eu sei que eu existo.
Mas não posso provar.
Eu sei.
Eu me lembro de existir.
Eu não me lembro de nada.
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