Imagem: TingTing Huang
(Não é difícil entender de que ou de quem trata esse post. O porquê é que está escondido)
"Me leva pra casa, me leva pra casa", era tudo o que você dizia. E eu dirigia, passando rápido pelos buracos, o coração batendo forte de medo, de amor, fui dirigindo por um caminho paradoxal e a sua casa parecia nunca chegar.
Meu coração doía e você nem via nada, só pedia que te levasse pra casa, os olhos miúdos fechados, um cheiro forte de álcool me embriagando junto.
"Não dorme, Mikael, por favor", eu pedi.
"Me leva pra casa"
(Eu não entendia, então, Mikael, eu não queria entender)
Naquela noite, você sorriu pra mim, através de mim, uísque em mãos. Te abracei e segurei seu rosto entre as mãos. "Fica", eu disse. E você rodopiou e cantou, cheirando a uísque e suor.
Entrou no carro e eu ,"fica", mas você me puxou pela mão e eu fui. (As risadas não saíram dos meus ouvidos ainda, sabe?) "Vamos voltar", pedi, mas você só encostou a cabeça no meu ombro. No que é que você pensou? Eu não tive tempo de perguntar. De repente, éramos uma confusão de berros e baques, e eu te enlacei como se fôssemos um só, enquanto o carro voava, enquanto voávamos na direção da grama.
Você era sangue e carne no centro da manhã clara, fundido à grama, ao vidro, à terra. Tentei tirar o vidro do seu cabelo, do seu rosto, disse "Vai ficar tudo bem", mas não era verdade.
Ali, no meio de grilos e luzes de faróis e murmúrios de curiosos, você me viu, finalmente. Disse algo que não escutei, seu coração batia alto demais, me ensurdecia até. Cheguei mais perto, o nariz colado ao seu, pra olhar seus olhinhos escuros de sangue e noite, escutei apenas o final.
Mas eu entendo agora, Mikael, esteja onde estiver.
Deitei na grama, sobre o vidro e o sangue e segurei sua mão de leve, assistindo às lágrimas, gritos e ao nascer de outro sol, o seu último. Só mais um.
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