Imagem: Ting Ting Huang
Cabelos recém lavados, cheirando a xampu e suor. Orelhas limpas, ligeiramente ácidas, tão pouca pele cobrindo as mandíbulas claras e o pescoço magro.
"E pra que isso seria bom? Os fins não justificam os meios, B. Isso só vai te fazer sentir pior, suja, indigna".
Seguro sua cabeça num abraço estranho, não quero olhar seu rosto, saber quem você é. Me interessam apenas essa pele parca, esses ossos quase expostos, esses ombros. Sabe que, quando de olhos fechados, tocando seus cabelos, você poderia ser outra pessoa?
"A culpa foi sua e de suas escolhas tolas e egoístas, você sabe"
Costelas firmes batendo nas minhas, ruídos abafados pelo tecido, pela música alta, pela boca. Você quer falar e eu não deixo, não quero saber, não quero ouvir.
"Você acha que quer mudar? Você não pode mudar, você não consegue! E, se conseguisse, não adiantaria, não traria nada de volta".
Você quer pele, e eu também quero. Encontro a sua primeiro, lisa e esticada, aperto-a com os dedos comos e quisesse atravessá-la e você não reclama.
"Será que você consegue lutar contra essa sua mania de ser mártir, de se comprometer com as pessoas, só pra fazer isso?"
É pouco ainda, para calar as vozes, as bocas, as lembranças, é pouca pele, me diz pra onde ir, me diz o que fazer. Não diz, só a mesma repetição de movimentos, os ossos, a pele. Preciso de mais.
"Isso não é saudável, você precisa sair daqui, ver pessoas. Me deixa te ajudar".
Caminhamos a 4 pés, você ri e eu guio. Preciso de mais e você quer dar mais. É um alívio o contato entre a mão áspera e o tecido liso.
"Você precisa me ouvir"
Mais um pouco, você olha pra mim e eu vejo seus dentes surgirem, vejo as coisas acontecendo lentamente - e, ainda assim, depressa demais - no seu rosto.
"Você ainda acredita em inferno?"
Seus olhos, seu nariz, sua boca "vem". Mas eu ajeito as roupas e o cabelo depressa.
- Adeus.
Sem olhar pra trás, sem me arrepender.
Apática.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
1 comentários:
18/12 foi meu aniversário.
O sentimento foi semelhante, e no dia seguinte tive uma das maiores decepções de meus curtos 25 anos.
(yeah, I'm back)
Postar um comentário