Imagem: TingTing Huang
A noite chega depressa e demora a ir embora dessa minha cidade interna.
Meus maus espíritos tornam-se irrequietos e tagarelas. Tento fugir, de novo e de novo e de novo: acabo correndo ao encontro deles.
Olhos amarelos, meias vermelhas, braços invertidos, pele vermelha: "você não consegue. Desista, B. Não faça mais nada e não corre o risco de decepcionar ninguém".
Cabelos longos, rosto redondo de menina: Bicman.
"Você é feia, nunca vai deixar de ser feia. Aceite isso. Abrace sua própria feiura".
Eden. Cabelos castanhos, cicatrizes recentes demais, grandes demais. "Você sabia que os cabelos continuam crescendo depois que se morre?"
Alex ri, a cabeça estourada, deformada.
Ouço a marcha chegando e reconheço Siegfried's Funeral March tocando ao fundo.
Aquiles queima e eu sinto o cheiro de carne, tecido e cabelos queimando.
"Por favor, por favor, me deixe vê-lo antes"
Mas alguém me segura, me arranha, me bate, me arranca os cabelos.
"Por favor", imploro, "Por favor"
Mas ele queima, grita e me sangra os ouvidos e o peito.
Aprendo. Se não pela ordem, pela pedra.
21x13 Macário
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21x12 Natural Killer
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É como se estivesse te perdendo outra vez. Acordei assustada, percebendo que tinha perdido seu rosto.
Sonhei que te desenhava inúmeras vezes sem jamais acertar os traços, as cores, os detalhes.
Contei a L. e ela me disse que não me preocupasse, "você desenha com palavras".
Como é tudo o que eu tenho, farei o meu melhor.
Seus olhos estão sempre sérios nas minhas lembranças, imortalizados em seus tons de todas as cores possíveis, lendo mentes e dizendo mais que qualquer boca, em uma língua que eu não entendo ainda.
Nariz. Acredita que não me lembro do seu nariz? Nariz e orelhas, sua boca, parece que ficou tudo perdido, foi substituído por luz e som. É lindo. Queria que você pudesse se ver como eu o vejo.
Você é lindo.
Quando você sorriu, foi como se tudo o mais sorrisse. Me lembro das suas gengivas. Não me ache estúpida, mas é que achei tão lindo o seu sorriso, o branco dos dentes se destacando contra as gengivas rosadas, tão especial.
E seus cabelos.
Me sinto tão tola quando escrevo sobre eles, Otto. Às vezes, até parece que os amo mais do que a você.
Mas é que são parte de você. Pequenos fios de luz, som e cor, crescendo lentamente, todas as noites. Brilhando à luz do dia e dançando ao sabor do vento.
Queria que você pudesse se ver como eu o vejo.
Você é lindo.
É como se estivesse te perdendo outra vez. Acordei assustada, percebendo que tinha perdido seu rosto.
Sonhei que te desenhava inúmeras vezes sem jamais acertar os traços, as cores, os detalhes.
Contei a L. e ela me disse que não me preocupasse, "você desenha com palavras".
Como é tudo o que eu tenho, farei o meu melhor.
Seus olhos estão sempre sérios nas minhas lembranças, imortalizados em seus tons de todas as cores possíveis, lendo mentes e dizendo mais que qualquer boca, em uma língua que eu não entendo ainda.
Nariz. Acredita que não me lembro do seu nariz? Nariz e orelhas, sua boca, parece que ficou tudo perdido, foi substituído por luz e som. É lindo. Queria que você pudesse se ver como eu o vejo.
Você é lindo.
Quando você sorriu, foi como se tudo o mais sorrisse. Me lembro das suas gengivas. Não me ache estúpida, mas é que achei tão lindo o seu sorriso, o branco dos dentes se destacando contra as gengivas rosadas, tão especial.
E seus cabelos.
Me sinto tão tola quando escrevo sobre eles, Otto. Às vezes, até parece que os amo mais do que a você.
Mas é que são parte de você. Pequenos fios de luz, som e cor, crescendo lentamente, todas as noites. Brilhando à luz do dia e dançando ao sabor do vento.
Queria que você pudesse se ver como eu o vejo.
Você é lindo.
21x11 We are never ever getting together
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Imagem: TingTing Huang
Eu não sei de que cor são seus olhos, o que só pode querer dizer, você sabe (apesar da ansiedade que senti quando fui te ver, apesar de tocar no seu nome todos os dias, sem falta e daquele devaneio que eu tive uma vez): Não é você quem eu quero.
Então, pode parar de se preocupar - se é que se preocupa com alguma coisa: Nós nunca vamos ficar juntos.
Eu não sei de que cor são seus olhos, o que só pode querer dizer, você sabe (apesar da ansiedade que senti quando fui te ver, apesar de tocar no seu nome todos os dias, sem falta e daquele devaneio que eu tive uma vez): Não é você quem eu quero.
Então, pode parar de se preocupar - se é que se preocupa com alguma coisa: Nós nunca vamos ficar juntos.
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21x10 North Egg
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Imagem: TingTing Huang
Estavam destinados a se conhecer e se apaixonar. Eram perfeitos um pro outro: ela escrevia novelas no caderno, ele roteiros de filmes no computador, separados pela divisória da mesa do mesmo café.
De manhã, ele fazia cursinho, o mesmo que ela fazia à tarde.
Nos fins de semana, iam à biblioteca, ela sentava na cabine, de costas pra mesa onde ele lia.
Esperavam o ônibus no mesmo horário, no mesmo ponto. Ela esperava no sol, ele na sombra, atrás do ponto. Ele pegava o 16, ela o 22.
Ele fazia compras na quarta de manhã, ela na quarta à tarde.
Passaram na mesma faculdade, ela de manhã, ele à tarde.
Liam os mesmos livros, escutavam as mesmas músicas.
Ela tinha medo das mesmas coisas que ele tinha aprendido a enfrentar.
Ela conhecia as coisas cujo significado ele nunca entendera.
Seus signos eram perfeitamente opostos, completavam-se.
Gostavam de azul e blusas de frio. Ele bebia água demais, ela de menos.
Ficaram doentes na mesma semana e foram internados na mesma ala.
Receberam alta no mesmo dia.
Almoçavam no seu restaurante favorito: ela em uma janela, ele na outra, extremos opostos.
Ele saía de casa às 7:23 e passava pelo mesmo lugar em que ela passava 2 minutos depois. Pedalava pelas mesmas ruas pelas quais ela caminhava cabisbaixa.
Arrumou uma namorada que o fazia feliz, mas não o bastante. Ficou noivo.
Ela foi ficando sozinha, cada vez mais fechada para o mundo.
Ele se casou e arrumou um bom emprego, 2 andares acima do lugar onde ela trabalhava semanalmente.
Ela teve um filho com um namorado. O relacionamento não deu certo.
Ele se divorciou, sem filhos. Teve outras namoradas que não duraram muito. Ela foi à alguns encontros, mas sempre voltou pra casa sozinha.
Um dia, acordaram, o tempo parecia estar acabando e eles aceitaram que a vida era só isso - não valia a pena e a dor de ser vivida.
Ele estava no trabalho quando sentiu dores no peito. No mesmo dia, a irmã dela adoeceu. Chegaram juntos ao hospital, ela de carro, ele de ambulância. Ela deu passagem para a maca, encostando-se na parede do corredor e ficou olhando enquanto ele era levado.
Ele não morreu, por pouco.
Saiu do hospital se sentindo velho, cansado e solitário. Estava assustado com sua própria fragilidade. Pegou um táxi e foi até a torre da cidade, seu lugar favorito em criança. Queria pensar, queria voltar no tempo.
Ela tinha medo de altura, mas o filho queria tanto ver a cidade lá do alto...
Entrou no elevador com uma mulher e uma criança.
- Mãe, você tá com medo? - perguntou o menino.
- Sim, mas tudo bem ter medo.
- Por que?
- Se eu nunca tivesse medo de nada, como é que ia saber quando estou sendo corajosa?
Ele olhou pra ela e sorriu.
Ela sorriu de volta.
Em tempo.
Estavam destinados a se conhecer e se apaixonar. Eram perfeitos um pro outro: ela escrevia novelas no caderno, ele roteiros de filmes no computador, separados pela divisória da mesa do mesmo café.
De manhã, ele fazia cursinho, o mesmo que ela fazia à tarde.
Nos fins de semana, iam à biblioteca, ela sentava na cabine, de costas pra mesa onde ele lia.
Esperavam o ônibus no mesmo horário, no mesmo ponto. Ela esperava no sol, ele na sombra, atrás do ponto. Ele pegava o 16, ela o 22.
Ele fazia compras na quarta de manhã, ela na quarta à tarde.
Passaram na mesma faculdade, ela de manhã, ele à tarde.
Liam os mesmos livros, escutavam as mesmas músicas.
Ela tinha medo das mesmas coisas que ele tinha aprendido a enfrentar.
Ela conhecia as coisas cujo significado ele nunca entendera.
Seus signos eram perfeitamente opostos, completavam-se.
Gostavam de azul e blusas de frio. Ele bebia água demais, ela de menos.
Ficaram doentes na mesma semana e foram internados na mesma ala.
Receberam alta no mesmo dia.
Almoçavam no seu restaurante favorito: ela em uma janela, ele na outra, extremos opostos.
Ele saía de casa às 7:23 e passava pelo mesmo lugar em que ela passava 2 minutos depois. Pedalava pelas mesmas ruas pelas quais ela caminhava cabisbaixa.
Arrumou uma namorada que o fazia feliz, mas não o bastante. Ficou noivo.
Ela foi ficando sozinha, cada vez mais fechada para o mundo.
Ele se casou e arrumou um bom emprego, 2 andares acima do lugar onde ela trabalhava semanalmente.
Ela teve um filho com um namorado. O relacionamento não deu certo.
Ele se divorciou, sem filhos. Teve outras namoradas que não duraram muito. Ela foi à alguns encontros, mas sempre voltou pra casa sozinha.
Um dia, acordaram, o tempo parecia estar acabando e eles aceitaram que a vida era só isso - não valia a pena e a dor de ser vivida.
Ele estava no trabalho quando sentiu dores no peito. No mesmo dia, a irmã dela adoeceu. Chegaram juntos ao hospital, ela de carro, ele de ambulância. Ela deu passagem para a maca, encostando-se na parede do corredor e ficou olhando enquanto ele era levado.
Ele não morreu, por pouco.
Saiu do hospital se sentindo velho, cansado e solitário. Estava assustado com sua própria fragilidade. Pegou um táxi e foi até a torre da cidade, seu lugar favorito em criança. Queria pensar, queria voltar no tempo.
Ela tinha medo de altura, mas o filho queria tanto ver a cidade lá do alto...
Entrou no elevador com uma mulher e uma criança.
- Mãe, você tá com medo? - perguntou o menino.
- Sim, mas tudo bem ter medo.
- Por que?
- Se eu nunca tivesse medo de nada, como é que ia saber quando estou sendo corajosa?
Ele olhou pra ela e sorriu.
Ela sorriu de volta.
Em tempo.
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21x09 Return to sender
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Imagem: TingTing Huang
- Oi
- Como é que você está?
- Onde você mora?
- A que horas você tem saído de casa?
- Sinto sua falta.
- Você já comprou alguma coisa pra ela de valentine's day?
- Você tem comido direito?
- Como vai sua mãe?
- Que músicas você tem escutado?
- Você cortou os cabelos?
- Sabe, outro dia li um livro e lembrei de você, também ouvi aquela nossa música, você se lembra dela?
- Aquela minha amiga sempre me pergunta se te vi, você sabe qual é, a T.
- Não deixe de tomar bastante água e comer direito. Não quero que você fique doente.
- Compra algo pra ela, ela vai gostar.
- Fica bem, a salvo. Cuidado quando for sair à noite.
- Te amo.
- Tchau.
Desculpe, sua ligação não pôde ser completada. Tente novamente.
- Oi
- Como é que você está?
- Onde você mora?
- A que horas você tem saído de casa?
- Sinto sua falta.
- Você já comprou alguma coisa pra ela de valentine's day?
- Você tem comido direito?
- Como vai sua mãe?
- Que músicas você tem escutado?
- Você cortou os cabelos?
- Sabe, outro dia li um livro e lembrei de você, também ouvi aquela nossa música, você se lembra dela?
- Aquela minha amiga sempre me pergunta se te vi, você sabe qual é, a T.
- Não deixe de tomar bastante água e comer direito. Não quero que você fique doente.
- Compra algo pra ela, ela vai gostar.
- Fica bem, a salvo. Cuidado quando for sair à noite.
- Te amo.
- Tchau.
Desculpe, sua ligação não pôde ser completada. Tente novamente.
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21x08 The day the saucers came
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Imagem: TingTing Huang
Lá fora, o caos cotidiano, carros, homens, mulheres e a vida. Aqui dentro, eu espero, sentada, ao lado do telefone.
O fim do mundo chegou e foi embora.
Nem me mexi, sentada ao lado do telefone.
Recebi visitas que não entretive, me roubaram quase tudo o que tinha, me examinaram e me medicaram enquanto eu esperava o telefone tocar.
Fui ferida e partida ao meio, mas não saí do lugar, esperando o telefonema.
Quando finalmente tocou, não era você, não era sobre você.
Era pra mim, sobre mim.
"Abra as janelas, saia de casa. Pare de esperar, você é quem está atrasada".
Quando você/Quando alguém ligou pra me dar notícias suas, quando o telefone tocou, eu já tinha saído, tinha ido embora pra um lugar onde houvesse alguém me esperando.
Desculpe.
Lá fora, o caos cotidiano, carros, homens, mulheres e a vida. Aqui dentro, eu espero, sentada, ao lado do telefone.
O fim do mundo chegou e foi embora.
Nem me mexi, sentada ao lado do telefone.
Recebi visitas que não entretive, me roubaram quase tudo o que tinha, me examinaram e me medicaram enquanto eu esperava o telefone tocar.
Fui ferida e partida ao meio, mas não saí do lugar, esperando o telefonema.
Quando finalmente tocou, não era você, não era sobre você.
Era pra mim, sobre mim.
"Abra as janelas, saia de casa. Pare de esperar, você é quem está atrasada".
Quando você/Quando alguém ligou pra me dar notícias suas, quando o telefone tocou, eu já tinha saído, tinha ido embora pra um lugar onde houvesse alguém me esperando.
Desculpe.
21x07 The devil in us
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garota solteira procura,
Imagem: TingTing Huang
Ele me disse que te deixasse ir, mas eu não posso.
Eu preciso de você, mesmo que você nem esteja presente. Preciso do seu fantasma, saber que você anda por aí.
Me escondo dEle, fujo das Suas palavras, dos Seus avisos. Ignoro Suas tentativas de chamar minha atenção.
Aí volto a falar com Ele, me desculpo por minhas faltas e você aparece e me toma tudo, mandado por sei lá quem, leva a minha alma embora no bolso da mochila, me deixa de joelhos a adorar seu rastro.
Por favor, pare de voltar.
Por favor, pare de voltar.
Por favor, pare de voltar.
Por favor.
Por favor.
Por favor.
Por favor, me deixe ficar com ele.
Ele me disse que te deixasse ir, mas eu não posso.
Eu preciso de você, mesmo que você nem esteja presente. Preciso do seu fantasma, saber que você anda por aí.
Me escondo dEle, fujo das Suas palavras, dos Seus avisos. Ignoro Suas tentativas de chamar minha atenção.
Aí volto a falar com Ele, me desculpo por minhas faltas e você aparece e me toma tudo, mandado por sei lá quem, leva a minha alma embora no bolso da mochila, me deixa de joelhos a adorar seu rastro.
Por favor, pare de voltar.
Por favor, pare de voltar.
Por favor, pare de voltar.
Por favor.
Por favor.
Por favor.
Por favor, me deixe ficar com ele.
Early Cuts: Kill the lights
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garota solteira procura,
Imagem: TingTing Huang
"Eu enxergo dentro de você", ela disse baixinho.
5 da manhã, ela bêbada, eu tonta.
Ela me diz coisas que ninguém mais sabia, ninguém podia saber.
Ela sabe quem eu sou, sabe das minhas mentiras, sabe dos meus anseios. Ela sabe sobre nós.
A música alta tira de mim a responsabilidade de responder às suas provocações, finjo que não escuto.
Ela diz que sabe de onde venho, sabe pra onde vou. Conhece meus sonhos e pensamentos mais íntimos.
Me conta historietas sobre mesas, poemas e maçãs.
- Eu não sou quem você está dizendo, grito, por cima da música.
- Eu sei. Você ainda vai ser quem eu estou dizendo, diz, com ares de profetisa.
Por alguma razão, acredito.
"Eu enxergo dentro de você", ela disse baixinho.
5 da manhã, ela bêbada, eu tonta.
Ela me diz coisas que ninguém mais sabia, ninguém podia saber.
Ela sabe quem eu sou, sabe das minhas mentiras, sabe dos meus anseios. Ela sabe sobre nós.
A música alta tira de mim a responsabilidade de responder às suas provocações, finjo que não escuto.
Ela diz que sabe de onde venho, sabe pra onde vou. Conhece meus sonhos e pensamentos mais íntimos.
Me conta historietas sobre mesas, poemas e maçãs.
- Eu não sou quem você está dizendo, grito, por cima da música.
- Eu sei. Você ainda vai ser quem eu estou dizendo, diz, com ares de profetisa.
Por alguma razão, acredito.
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