Imagem: TingTing Huang
Não posso ficar triste.
Eu não estou feliz, não é normal, mas não posso ficar triste.
Conheci alguém assim, um mundo inteiro sob as cobertas, escondido.
Eu dizia "Tudo bem?" e ela chorava muito, por minutos a fio.
Eu não choro como ela.
De onde eu venho, de onde viemos, mulheres não choram.
Mas ela teve coragem. Ela tem coragem.
Ela me dizia verdades, verdades que só alguém que sabe exatamente quando vai morrer, diria.
Eu nunca, nunca disse verdade nenhuma nessa vida.
Nem quando soube que Ela viria. Nem quando A olhei nos olhos, nem quando Ela se tornou parte de mim.
Ela me disse adeus numa tarde quente e ordinária.
E eu podia ter dito "Adeus, me espera. Eu chego logo, prometo não demorar", mas não respondi. Não respondi, e também não te deixei ir.
Fui eu quem fiz a ligação que te salvou a vida.
Você me agradeceu, depois. Mas eu nunca senti como se tivesse te feito um favor, nem uma vez.
Seu filho nasceu, você progrediu, dias felizes e tristes, e isso é bom.
Mas eu não me sinto uma heroína.
Sinto que traí sua coragem, eu te traí quando fiz aquela ligação.
Traí a mim mesma, trazendo a tua morte, o teu fardo, pro meu encalço.
Ela o fez. Apesar da mãe, pai, irmãos, amigos, uma gama de gente que ela havia afetado de alguma maneira.
Apesar de tudo isso, ela o fez, apesar das consequências.
Eu não fui capaz.
Eu tinha mãe, pai, irmã, irmão.
Eu tinha medo.
Eu traí a mim mesma de novo.
Eu tive medo.
Eu tenho medo, aquele que você não teve.
Eu tive medo de nunca amar ninguém, de nunca mais escrever, de criar um precedente, um padrão.
Me agarrei a esses fragmentos de vida naquela tarde quente e ordinária, em que eu era a protagonista, e vomitei.
No chão inteiro.
Depois limpei, e ninguém nunca soube.
Ninguém nunca vai saber.
Eu agradeço, sou grata por cada dia, desde então.
Não acho que tenha me feito um favor, mas não se preocupe comigo: no dia em que não morri, a coragem morreu.
O que sobrou é o que você vê.
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