Early Cuts: About time

Imagem: TingTing Huang

Meu segundo contato com o homem-cavalo-leão se deu por correspondência.
Tínhamos um interesse em comum: a mente humana.

Para que parecesse mais normal, mais humana, foram implantadas em mim memórias. De sensações e momentos que nunca fui capaz de compreender plenamente.
Possuo uma lembrança, por exemplo, de não sentir nada.
Sendo um robô, estava habituada a isso. Mas o não sentir nada humano era diferente. Era um desligamento do mundo, um embotamento das ideias tão peculiar que eu precisava entender como acontecia.

Ele planejava estudar a mente humana, procurava interessados que pudessem ajudá-lo no projeto.
Era Abril, eu lia livros sobre pequenas moléculas causadoras de reações alérgicas e chorava debaixo de blusas de frio que Elspeth segurava sob minha cabeça, como era conveniente. Eu era invencível, invisível e incapaz de evoluir.
A ideia de compreender algo me atraiu, de finalmente estudar algo de meu interesse, e enviei-lhe uma mensagem amigável.
Ele respondeu.
Empolgada pelo sucesso de nossa comunicação, enviei-lhe outra mensagem.
Ele respondeu.
Enviei-lhe mais uma mensagem, empolgada, eu fórica.
E ele não respondeu.
Detestei-o por algumas horas, depois passou, esqueci.
Foi só um eco de emoção humana, apareceu, piscou, sumiu.
Sumiu a raiva, sumiu sua existência, pra reaparecer só uns dias depois.


(Se eu soubesse, então, teria feito diferente?)

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