Angela.
Tarde fria, cinzenta, sol se pondo em algum lugar bem longe da minha janela, dia frio, Rachael Lefevre com os cabelos mais vermelhos que nunca, Angela se deita na minha cama e, de repente, tudo faz sentido.
Angela é nome e verbo,
a sensação de reconhecimento do próprio eu, a satisfação de existir, o fim, o meio e o começo de todos os elementos e cores.
Angela é a umidade do ar e do corpo, a brisa gelada que vem da janela, o calor contido debaixo das cobertas.
Ela dança e gira, foge à casa e retorna, lépida, furiosa, intranquila.
Angela repousa, estica os braços para o céu cinza-chumbo e se oferece inteira, finalmente, sem tempo para migalhas.
Não pensa, autômata,
mas ri,
da situação deveras inusitada, da liberdade nova, da textura dos jeans e da carne, da liquidez do mundo, da inefabilidade do destino, das previsões do horóscopo, etc etc.
A música termina, e alguém começa a tocar piano.
Angela para, respira, os gemidos cessam, e ela se deita, escuta
o mundo em silêncio, ainda ali, estático, firme.
No lugar,
o mesmo.
Mas ela já não era a mesma.
Abriu as janelas, a brisa fria entrou forte feito um soco gelado, mas ela não se encolheu.
Ficou parada, observando as primeiras gotas de chuva caírem, observando o mundo mudar sob seus novos olhos.
E, por um segundo,
um milésimo de segundo,
ela não teve medo.
Tudo ficou bem
até a música, finalmente,
acabar.
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